Por Professor Nazareno
Publicada em 04/01/2021 às 08h58
Professor Nazareno*
Nas eleições para prefeito de Buraco Quente em 2020, no primeiro turno votei no “esquerdista” professor Fernando Pessoa. Como o ilustre mestre universitário não foi para o segundo turno, decidi anular a minha opção na segunda votação. Rui Barbosa e Clarice Lispector não me convenceram em absolutamente nada para merecerem o meu voto. O então prefeito de Buraco Quente, que disputava o cargo, decidiu só de última hora concorrer à reeleição. Além do mais, não aprovei sua administração à frente da cidade entre 2017 e 2020. Não só viajou muito para o exterior como também deixou Calama sem médico por um bom tempo, a capital ficou uns dois anos sem transportes coletivos e muitas crianças ficaram sem aulas por falta de transportes escolares. Já a Clarice mostrou ser uma candidata bolsonarista. “Deus na frente”, era o seu bordão.
Fernando Pessoa foi um candidato muito fraco, como ficou demonstrado. E muita gente sabia disto. Mas era visto como representante da esquerda e por isso tinha o apoio quase incondicional dos jovens e de setores mais progressistas da sociedade. Bem diferente do Fernando Pessoa candidato a governador do Estado em 2018, o jovem político se aliou muito rápido ao Dr. Rui assim que terminou o primeiro turno do pleito. Não era da esquerda coisa nenhuma! Talvez de centro ou de outra denominação qualquer. Buscou a direita reacionária na primeira oportunidade que teve. E talvez sem nenhuma necessidade. Respeito sua decisão política, mas jamais concordarei com ela. Se eu soubesse que ele iria fazer isto, nem teria participado destas eleições. Quase sem biografia política, a sua postura pode ter sepultado de vez qualquer futura pretensão.
Deu a entender que estava desesperado para pertencer ao poder de qualquer jeito. Ainda que fosse o “frágil” poder municipal. Mesmo representando a esquerda, ganhou um presente por seu apoio: uma secretaria na prefeitura. Guardadas as devidas proporções, agiu como o ex-juiz Sergio Moro, que ganhou do presidente Bolsonaro um Ministério e também promessas de um dia vir a ser ministro do STF. Excelente professor universitário e bom advogado, Pessoa fez o contrário do grande jurista Sobral Pinto quando este rejeitou várias vezes ser ministro do Supremo a convite do ex-presidente Juscelino Kubistchek. Sobral Pinto não só lutou pelo direito de JK ser candidato à Presidência da República como teria dito ao ex-presidente que seria apenas um fiscal de sua administração. “Lutei pelo que acredito e não por cargos”, teria falado.
Se Fernando Pessoa queria cargos, ganhou um. Mas será que à frente da Superintendência dos Distritos conseguirá pelo menos mandar um médico para Calama? Conseguirá fazer com que os alunos ribeirinhos, por exemplo, tenham transporte de verdade para não perderem mais aulas? Vai fazer com que os esquecidos distritos da capital e seus moradores tenham mais peso nas decisões da prefeitura? Ou será apenas mais uma “marionete da elite” que nada decide? O tempo passa rápido e daqui a dois anos, se ele ainda for candidato a alguma coisa, não terá meu voto de jeito nenhum. Pessoa vai servir agora a um patrão da direita conservadora e retrógrada. E todos nós sabemos que Rui Barbosa e sua gente odeiam a esquerda e o pensamento progressista. Ele poderia até ter dado apoio, pois isto faz parte do jogo político. Mas nada de aceitar cargos públicos. Políticos “vira-casaca” só denigrem a tosca política desse país. Triste!
*Foi professor em Porto Velho