Por G1
Publicada em 05/02/2021 às 14h54
O Equador, que realiza eleições gerais no domingo (7), tem um candidato indígena à presidência pela primeira vez em 15 anos. Yaku Pérez, que concorre ao cargo, é do partido Pachakutik, o braço político da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador.
Os 14 povos indígenas do Equador representam 7,4% da população do país, segundo o censo de 2010. Pérez, da etnia Kañari, afirma que, segundo estudos antropológicos, 25% dos 17,4 milhões de equatorianos são indígenas.
O último candidato presidencial indígena, Luis Macas, obteve apenas 2,2% dos votos em 2006. Antes dele, Antonio Vargas obteve 0,9% dos votos, em 2002.
Além de Pérez, há candidatos indígenas ao Legislativo. Eles contam com a popularidade de uma revolta de massas que aconteceu em 2019.
O presidente Lenín Moreno cedeu e revogou o decreto que suspendia subsídios para a produção de combustíveis.
Naquele ano, o presidente Lenín Moreno decretou um aumento dos combustíveis. Em reação, houve manifestações que paralisaram o país. No fim, o governo desistiu do reajuste. Nos protestos, 11 pessoas morreram e 1.340 ficaram feridas.
Esses protestos uniram o movimento indígena e outros setores populares, segundo Leonidas Iza, um dos líderes dos atos de 2019. Iza não concorre a nenhum cargo eletivo, mas faz campanha para candidatos ao Legislativo do Pachakutik.
Reta final da campanha
Na quarta-feira, Pérez fez seu último ato de campanha eleitoral em Quito. Em sua fala, ele afirmou que busca reconciliar os equatorianos com a mãe natureza --seu discurso político tem como base a proposta de um "pacto ecossocial".
Yaku Pérez tem 12% das intenções de voto, de acordo com a última pesquisa feita pela Market. Ele está atrás de Andrés Arauz (32%), e de Guillermo Lasso (21%).
Eleições polarizadas
Pérez é uma candidatura centrista em eleições marcadas pela polaridade. Lasso, de 65 anos, é um ex-banqueiro de direita. Andrés Arauz, de 35 anos, é apoiado pelo ex-presidente socialista Rafael Correa (2007 -2017).
No total, 16 candidatos competem para suceder Lenín Moreno, que entregará o poder em 24 de maio, após quatro anos de governo. O atual presidente poderia concorrer à reeleição, mas ele optou por não tentar fazer isso.
Moreno chegou ao poder com o apoio da esquerda, mas ele rompeu com Correa e passou a ser apoiado por empresários e fez um acordo com o FMI. Os aliados de Correa chamam Moreno de traidor.
Disputa deve ir para o segundo turno
É improvável que a disputa seja definida no primeiro turno. Para isso, seria preciso que um dos candidatos obtivesse metade mais um dos votos válidos ou pelo menos 40% com vantagem de 10 pontos percentuais sobre o adversário mais próximo.
Haverá um "segundo turno disputadíssimo", previsto para 11 de abril, disse à AFP o diretor do instituto de pesquisas Market, Blasco Peñaherrera.
Para o cientista político Paolo Moncagatta, da privada Universidade San Francisco de Quito, o segundo turno "veria uma campanha suja, violenta, que na verdade desprestigiaria ainda mais a já desprestigiada política", que levou o Equador a ter sete presidentes entre 1996 e 2007, três deles destituídos em revoltas sociais.
Ele não descarta, no entanto, uma decisão no primeiro turno. "Sempre há uma possibilidade, sobretudo levando-se em conta um grande percentual de indecisos", disse Moncagatta à AFP.
Os outros 13 aspirantes aparecem muito longe dos três primeiros, com menos de 4%.
A sombra de Rafael Correa
O ex-presidente Rafael Correa, que mora na Bélgica desde que deixou o cargo, está inabilitado para cargos públicos no Equador após ter sido condenado a oito anos de prisão por corrupção em 2019.
No entanto, a disputa deste ano é marcada por sua influência e pela impopularidade de Moreno. A credibilidade e a aprovação à gestão de Moreno caíram de quase 70% no começo de seu mandato a 7% em novembro, segundo a consultoria Cedatos.
Eleições legislativas e Covid-19
No domingo, cerca de 13,1 milhões dos 17,5 milhões de habitantes do Equador também vão eleger os 137 membros da Assembleia Nacional (unicameral), na qual o próximo governo carecerá de maioria, devido à fragmentação das forças políticas, que poderiam consolidar uma frente de oposição.
O Equador irá às urnas afetado pela pandemia de Covid-19, que deixa prejuízos acima de 6,4 bilhões de dólares, agravando sua crise financeira e o desemprego, que foi de 8,59% em setembro passado.
Sua economia dolarizada sofrerá em 2020 uma contração de 8,9%.