Por Notícia ao Minuto - Portugal
Publicada em 18/02/2021 às 15h58
Os jornalistas ficaram feridos quando os soldados dispersaram violentamente os apoiantes de Wine junto ao escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) na capital ugandesa, Kampala, onde o antigo cantor esteve para apresentar um documento em que denunciava violações dos direitos humanos durante o período eleitoral.
Um dos jornalistas continua hospitalizado devido a um ferimento na cabeça, segundo uma associação de jornalistas ugandeses.
Bobi Wine, 38 anos, antigo cantor e principal opositor do Presidente ugandês, Yoweri Museveni, nas eleições presidenciais de janeiro, defende que os resultados foram manipulados.
De acordo com os resultados oficiais, Museveni recolheu 58,4% dos votos, enquanto Bobi Wine recebeu 35,1%.
Numa petição que entregou à ONU na quarta-feira, Bobi Wine detalha alegados abusos cometidos durante o período eleitoral, incluindo detenções, tortura ou desaparecimentos forçados, assim como a repressão contra a oposição.
Numa declaração emitida hoje, o Exército anunciou que uma comissão disciplinar do tribunal marcial "se reuniu e deliberou" sobre os sete oficiais que "se comportaram mal e agrediram membros do quarto poder", noticia a agência France-Presse.
Seis destes oficiais receberam pena de prisão entre 60 e 90 dias, com o outro a receber uma "reprimenda severa".
O chefe do Exército, David Muhoozi, recorreu hoje a uma conferência de imprensa para pedir desculpa aos órgãos de comunicação social pelo ocorrido e prometeu o pagamento dos cuidados prestados aos jornalistas feridos.
A chefe das Nações Unidas no Uganda, Rosa Malango, condenou o ataque contra os jornalistas, lamentando o "uso excessivo de força" por parte das autoridades.
Por sua vez, a embaixadora dos Estados Unidos da América no país, Natalie Brown, defendeu que "aqueles que violam a lei da imprensa devem ser responsabilizados".
O incidente foi também condenado pelos órgãos de comunicação social e pela sociedade civil.
"Constatamos com preocupação que os ataques a jornalistas que começaram durante a campanha eleitoral continuam e parecem ter-se tornado uma norma", assinalou a Federação de Jornalistas Africanos num comunicado.
As eleições do Uganda foram marcadas pela violência antes do dia da votação, bem como pelo encerramento da Internet, que permaneceu em vigor até quatro dias após a votação.
Museveni rejeitou as alegações de fraude eleitoral, afirmando que esta eleição foi "a mais isenta de fraude" desde a independência do país da Grã-Bretanha, em 1962.