Por Notícia ao Minuto - Portugal
Publicada em 19/03/2021 às 10h33
Durante a Cimeira Europeia Contra o Racismo, co-organizada pela Comissão Europeia e pela presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), vários oradores criticaram os líderes europeus por não se sentirem representados pelos altos cargos do bloco comunitário.
Fiyaz Mughal, fundador da organização 'Faith Matters and Tell Mama', denunciou a "falta de transparência e burocracia" que está associada à Comissão Europeia e que "permite esconder o racismo".
Na sua perspetiva, uma das questões que devem ser prioritárias quando se discute o combate ao racismo são "os processos de candidatura que vão para as instituições", referindo empregadores que olham para currículos de pessoas com "nomes diferentes" e que consideram que "essas pessoas não se adequam a certas formas de emprego".
De acordo com o responsável daquela organização, "a Comissão não reflete as comunidades da Europa", sublinhando que "em 2021 já não há desculpas para isto".
"Vejo líderes na Comissão Europeia que se parecem comigo no sentido em que têm acima de 50 anos, tal como eu. Mas, francamente, não refletem as gerações mais novas", apontou Mughal, aplaudindo, de seguida, estas mesmas gerações das "comunidades minoritárias" por exigirem mudanças na sociedade.
Por seu lado, Samira Rafaela, vice-presidente do Intergrupo Antirracismo e Diversidade do Parlamento Europeu (ARDI), defendeu também que é necessário reconhecer o racismo institucional, acrescentando que as próprias instituições enfrentam "um desafio" neste sentido, "porque há falta de diversidade" nas suas fileiras.
Nesse sentido, torna-se necessário proceder a um "reforço legislativo" na UE, defendeu, de modo a "responsabilizar todos os Estados-membros e indivíduos pelos seus atos racistas".
Samira Rafaela questionou, contudo, se há realmente "vontade política para abordar o racismo estrutural".
"Precisamos que os políticos e legisladores reconheçam que o racismo institucional existe. Parem de o negar", vincou.
O "maior desafio" que a ARDI enfrenta no seu trabalho diário no combate ao racismo é, de acordo com a responsável, o mundo 'online', onde várias pessoas reproduzem discursos de ódio "de forma anónima e instantânea".
"Juntos, com as grandes plataformas de redes sociais, temos de trabalhar para encontrar soluções eficazes para este problema. As pessoas não devem poder esconder-se atrás de contas falsas enquanto fazem os comentários mais primitivos e racistas", defendeu.
Romeo Franz, que também ocupa o cargo de vice-presidente da ARDI, aproveitou a sua intervenção para abordar a discriminação da comunidade cigana.
"Nós, a comunidade cigana, somos a maior comunidade étnica da Europa, com mais de 12 milhões de pessoas, seis milhões só na UE. E, ainda assim, somos das minorias mais discriminadas, marginalizadas e excluídas socialmente", frisou, apontando como causa o "anti-ciganismo", o preconceito e discriminação da comunidade cigana.
De acordo com Romeo Franz, a pandemia de covid-19 exacerbou este preconceito contra a comunidade cigana, que foi culpada pela propagação do vírus em vários países.
"Ciganos na Bulgária, Roménia, Eslováquia foram forçados a isolarem-se com acesso limitado ou nulo a água e condições sanitárias. Uma comunidade inteira foi o bode expiatório pela propagação do vírus (...). Estas injustiças devem parar. Somos pessoas europeias ciganas. Temos direitos", defendeu.
O responsável da ARDI apelou ainda aos Estados-membros para que nos seus planos nacionais de recuperação e resiliência "não deixem as pessoas ciganas para trás", sublinhando que "o racismo, nas suas várias formas, é uma ideologia promovida por extremistas e, por isso, deve ser visto como uma ameaça comum".