Por Rondoniadinamica
Publicada em 27/03/2021 às 09h50
Porto Velho, RO – Antes de fechar a primeira quinzena de fevereiro, o jornal eletrônico Rondônia Dinâmica veiculou editorial intitulado “Coronavírus – O reinado da morte em Rondônia”.
No dia 12 daquele mês, uma sexta-feira, foram registrados 27 óbitos e os números estavam transitando mais ou menos assim, entre 20 e 30, no máximo.
Já era parcial horrorosa, trágica. Porque a população, em mais de um ano de deflagração mundial da COVID-19 (SARS-CoV-2), acostumou-se aos dados, desvinculando-os da ideia de estarem ali representando pessoas de carne e osso cujas vidas se esvaíram por causa da pandemia.
Em suma, a morte virou hábito; lidar com ela, idem.
Lado outro, assusta a concepção de que eixo significativo da sociedade tenha mais aversão à ilustração do perecimento da existência do que a sua aplicação e consequências trazidas à realidade a galope.
A caricatura usada na opinião jornalística em comento gerou a revolta hidrófoba dessa gente desmiolada, celerada, reacionária e negacionista.
Um desenho montado e um título explicando-o, enfim, foram capaz de extrair a alfétena coletiva que não se vê no cotidiano de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) lotadas, cemitérios já sem espaço, famílias órfãs e daí por diante.
E sim, a despeito de haver, claro, culpa por parte das autoridades constituídas, e também das instituições de fiscalização e controle, atualmente em franca letargia, pouco ou nada se fala acerca da responsabilidade da população.
Há cidadãos e cidadãos. Acontece que a proliferação de um vírus não depende da adesão da maioria absoluta às normas sanitárias. Depende, na verdade, da compreensão de todos, sem exceção.
É questão de consciência solidária, de empatia, de humanidade.
Preste atenção, leitor (a): naquele editorial o reinado da morte foi colocado com as iniciais minúsculas, porque ainda se vislumbrava uma ínfima possibilidade de frear os seus avanços desde que ocorresse no seio social mudanças abruptas e rigorosas de hábitos.
Agora, o que se vê, de maneira lamentavelmente maiúscula, é a prevalência do Reinado da Morte. A diferença? Vinte ou trinta mortes diárias a mais de lá pra cá, coisa que certamente não incomoda a quem tem como missão primária negar a verdade e bater de frente com montagens na Internet. Na projeção geral, a distinção são, na prática, 1.443 óbitos no espaço de um texto para o outro, algo em torno de 1 mês e 14 dias.
Porém, como dito acima, existem cidadãos e cidadãos. E alguns deles não estão dispostos a abrir mão momentaneamente e de forma voluntária de alguns de seus direitos constitucionais, como a liberdade de locomoção, nem mesmo para manter a higidez física de seus semelhantes.
Ou seja, pelo discurso político vale até mesmo arriscar a vida de parentes, amigos e colegas.
Quando não existe autocrítica, sobra culpa para tudo quanto é lado, exceto a si mesmo. E essa ausência de percepção sobre a própria figura transmite, inegavelmente, uma falsa sensação de segurança.
Ainda há tempo para mudar de postura.