Por Diêgo Holanda/G1 RO
Publicada em 08/03/2021 às 11h22
Moradora da zona rural de Buritis (RO) desde que nasceu, Nayara de Oliveira Silva, de 19 anos, acorda cedo todos os dias para uma jornada de trabalho incomum a jovens da idade dela. Desde o início do ano ela precisou trocar os afazeres no sítio dos pais pela rotina do gabinete de vereadora.
A parlamentar mais jovem de Rondônia foi eleita no último mês de novembro com 347 votos, ficando em quatro lugar na lista dos onze membros da Câmara Municipal de Buritis, cidade que tem 40 mil habitantes e fica no Vale do Jamari.
Ao G1, Nayara contou os desafios de ser a única mulher do legislativo buritisense e os planos para dar representatividade às mulheres do município.
Em 2019, ela foi escolhida através de um concurso de redação para representar Rondônia no projeto Jovem Senador, promovido em Brasília pelo Senado Federal com objetivo de desenvolver interesse e iniciar jovens na política.
"Essa experiência como uma jovem senadora, aprendendo, entendendo o processo legislativo federal, propondo projetos, montando comissões, aquilo me chamou atenção. Ainda com 18 anos, assim que eu ganhei o processo, antes de ir pra Brasília ainda, começaram as cogitações, propostas e convites para participar, ser uma candidata", lembra.
Ela conta que conversou com a família e recebeu apoio dos pais, amigos e conhecidos da escola onde estudou. Os maiores desafios da campanha, segundo ela, foram entender os bastidores da política e as questões burocráticas como prestações de contas à Justiça Eleitoral.
Desde a divulgação do resultado das urnas, a rotina de Nayara mudou drasticamente. Antes mesmo da vitória, ele teve que abrir mão de bolsas em cursos de direito e economia, que conseguiu através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), para levar adiante a candidatura.
Atualmente, a vereadora concilia o trabalho com uma faculdade à distância. Por conta da pandemia, as sessões da Câmara estão acontecendo virtualmente e Nayara participa do sítio onde vive com os pais.
"A rotina é muito extensa. Hoje as redes sociais permitem um contato muito grande com a população, isso é muito bom, mas também você acaba não conseguindo administrar muito bem em relação aos estudos. Eu tenho que fazer uma jornada em que eu consiga implementar tudo isso na minha vida".
Sobre a participação das mulheres na política local, ela lembra que nas duas últimas eleições apenas uma representante foi eleita no município e lamenta não ter outras companheiras na legislatura.
"A participação da mulher aqui na Câmara Municipal do nosso município sempre foi muito pequena. Eu gostaria que tivesse mais, apesar de que a escolha foi feita democraticamente pela população que foi e votou, mas a gente teve bastantes mulheres candidatas para somente uma se eleger. Então está faltando alguma coisa, algo precisa ser ligado, conversado, analisado o que está acontecendo. Com certeza seria muito bom ter mais de uma mulher na Câmara", declarou.
Em relação ao tratamento recebido pelos colegas vereadores, ela diz que não enfrenta resistências. "Os demais vereadores são muito respeitosos, ajudam no que for possível com informação, conhecimento a mais. Hoje eu sou presidente da comissão de finanças orçamento e fiscalização e agricultura e meio ambiente", diz.
Para as mulheres, ela diz que tem conversado sobre projetos sociais como apoio às gestantes do município. "Esse início foi muito corrido, mas agora eu vou me organizar e colocar à frente esses projetos com certeza em relação ao público feminino".
"Esses quatro anos serão de muito aprendizado, é uma realidade completamente diferente da qual eu estava inserida, acostumada. É um novo processo lidar com o público, lidar com diversas situações, tomar decisões importantes para o município, para a comunidade, sem dúvida alguma é algo de grande responsabilidade", finalizou.