Por Agência Brasil
Publicada em 02/03/2021 às 15h01
"Estou indignado por saber que as instalações de várias organizações humanitárias e de um hospital foram queimadas ou danificadas", disse Edward Kallon, coordenador das operações humanitárias da ONU na Nigéria, em comunicado.
Na nota, a ONU refere-se a um "grupo armado não estatal" que está por detrás do "ataque violento", durante o qual "várias instalações humanitárias foram diretamente visadas".
Cerca de 114.000 pessoas vivem em Dikwa, praticamente isoladas do mundo, porque a presença de grupos armados nas estradas de acesso as torna extremamente perigosas para viajar.
Entre estas, 75.470 pessoas deslocadas pelo conflito, liderado desde 2009 grupo islâmico radical Boko Haram, vivem em campos, a maioria delas em condições difíceis, dependendo da ajuda humanitária para sobreviver.
Os deslocados vivem sob a proteção de um "super campo" do Exército nigeriano, mas três fontes de segurança disseram à agência de notícias France-Presse que os combatentes 'jihadistas' tiveram o controlo da cidade durante várias horas, entre segunda-feira à noite e hoje ao meio-dia.
Publicado pelas 12:30 locais (11:30 GMT), o comunicado da ONU dizia que o ataque ainda estava em curso.
Na segunda-feira à noite, fontes militares e humanitárias disseram à agência noticiosa que o ataque foi levado a cabo por elementos do grupo do Estado Islâmico na África Ocidental (Iswap).
As mesmas fontes indicaram também que 25 trabalhadores humanitários tinham ficado presos no local atacado. A nacionalidade destes trabalhadores é até agora desconhecida.
Na sequência do ataque, cerca de 25 funcionários de agências da ONU refugiaram-se num "bunker" dentro das instalações, onde ao final do dia os insurgentes procuravam ainda penetrar, segundo a agência de notícias francesa.
"Os insurgentes incendiaram as instalações, mas até ao momento nenhum funcionário foi atingido", referiu uma fonte das agências humanitárias.
A Oeste de Dikwa, no Estado de Zamfara, foram na semana passada sequestradas perto de 300 alunas de uma Escola Secundária na cidade de Jangebe, depois de homens armados atacarem o centro.
Mas cerca de 280 raparigas adolescentes raptadas na sexta-feira do seu internato em Jangebe foram libertadas e estiveram hoje na sede do governo de Zamfara, onde foi realizada uma pequena cerimónia em sua honra.
O incidente em Zamfara ocorreu nove dias depois do sequestro, levado a cabo por homens armados, de 28 estudantes e vários professores da Escola de Ciências do Governo em Kagara, no Estado de Níger.
O nordeste da Nigéria tem vindo a ser palco de um conflito mortal desde 2009 e alvo de ataques do Boko Haram.
Em 2016, o grupo separou-se, com a fação histórica de um lado e a Iswap, reconhecida pelo Estado islâmico, do outro.
Os combatentes do Iswap atacaram, em 01 de março de 2018, uma base da ONU na cidade nigeriana de Rann, matando três trabalhadores humanitários e raptando outro.
Desde o início do conflito, mais de 36.000 pessoas já foram mortas e mais de dois milhões de pessoas ainda não podem regressar a casa.