Por G1
Publicada em 15/03/2021 às 10h24
O partido de Angela Merkel sofreu derrotas em duas eleições regionais na Alemanha no domingo (14), seis meses antes das legislativas, de acordo com pesquisas de boca de urna
A União Democrática Cristã (CDU) registrou "um desastre" eleitoral, segundo o jornal "Die Zeit"; uma "derrota" que mostra que "não pode continuar assim", escreveu a revista "Der Spiegel".
Nas regiões de Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado, o partido conservador obteve o pior resultado de sua história, segundo as projeções de boca de urna das emissoras ARD e ZDF.
Baden-Württemberg, a CDU obteve 23,8% dos votos, contra 27% obtidos há cinco anos; enquanto na Renânia-Palatinado convenceu entre 26,9% e 27,5% dos eleitores, contra 31,8% em 2016, segundo ARD e ZDF.
Os conservadores não eram vistos como favoritos nesses dois estados regionais, liderados respectivamente pelos Verdes (Die Grünen) e pelos social-democratas (SPD).
As eleições gerais na Alemanha estão marcadas para o dia 26 de setembro. Nelas, será escolhido o sucessor de Angela Merkel.
Caso das máscaras
Críticas crescentes à gestão da crise de saúde e um escândalo de propina conhecido como "caso das máscaras" podem ter atrapalhado o desempenho da CDU.
O partido atravessa "sua crise mais grave" desde o escândalo das caixas pretas da queda do ex-chanceler Helmut Kohl no fim dos anos 90, estimam muitos cientistas políticos.
No domingo à noite, o secretário-geral da CDU, Paul Ziemiak, disse que o partido terá "tolerância zero" para "qualquer um que tente enriquecer durante a crise". Segundo Ziemiak, o escândalo da máscara "teve um forte impacto" nos resultados das eleições regionais.
Cerca de 11 milhões de eleitores estavam aptos a votar na eleição parlamentar regional.
Em Baden-Württemberg, uma região próspera e coração da indústria automobilística alemã, a vitória anunciada dos Verdes oferecerá um terceiro mandato a Winfried Kretschmann, de 72 anos, o único ambientalista que governa uma região alemã.
A coalizão com o CDU, que dirige há cinco anos, costuma ser considerada o laboratório de uma possível aliança nacional entre esses dois partidos nas eleições de 26 de setembro.
Os Verdes, que teriam vencido com cerca de 31% dos votos, segundo a pesquisa de boca de urna, terão assim uma boa margem para negociar uma nova aliança, com a CDU ou com os social-democratas, ou até com os liberais.
Na região Renania-Palatinado, vizinha de França, Bélgica e Luxemburgo, as coisas também não deram certo para o partido da chanceler.
Depois de acalentar a ideia de acabar com três décadas de dominação social-democrata, o CDU ficou muito atrás nas urnas da atual líder da região, Malu Dreyer, que obteve cerca de 34% dos votos e renovará seu mandato.
Fartos das restrições
Merkel, que esperava deixar o poder no auge de sua popularidade, vê seus planos contrariados pelas dificuldades do CDU e de seu aliado bávaro CSU.
Dois deputados, Georg Nüsslein (CSU) e Nikolas Löbel (CDU), abandonaram nos últimos dias seus partidos respectivos por suspeitas de terem enriquecido graças à epidemia, ao agirem como intermediários com fabricantes na compra de máscaras.
Em uma polêmica diferente, o conservador Mark Hauptmann renunciou na quinta-feira ao seu mandato depois de ser acusado de colocar publicidade do Azerbaijão no jornal regional que dirige.
No passado, parlamentares do CDU foram acusados de receber dinheiro deste país rico em petróleo. Um deles perdeu recentemente a imunidade parlamentar.
Em uma tentativa de apagar o incêndio, CDU e CSU deram o prazo até sexta-feira à noite aos seus parlamentares para declararem eventuais lucros com a epidemia.
A polêmica chega no pior momento para os conservadores, que devem designar em breve seu candidato para a chanceleria.
Armin Laschet, novo líder do CDU, aspira suceder Merkel, embora o presidente de Baviera, Markus Söder, possa ter a mesma ambição.
O caso das máscaras aumentou ainda mais o cansaço de milhões de alemães com as restrições e que duvidam da estratégia do governo.
As dificuldades de obtenção das vacinas contra a Covid-19 só têm acentuado o descontentamento, tendo como pano de fundo o aumento das infecções nos últimos dias. As autoridades de saúde não escondem sua preocupação com o possível início de uma terceira onda.