Por Montezuma Cruz/Secom
Publicada em 26/03/2021 às 13h45
Diversas matas ciliares, igarapés e rios de Rondônia deverão ser recuperados ainda este ano. A operação começa na região sul do Estado, em Cerejeiras, a cerca de 800 quilômetros de Porto Velho. O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), concluiu o diagnóstico para a conservação da bacia assoreada do Igarapé Branco (conhecido por rio Araras).
O Ministério Público, Secretaria do Meio Ambiente de Cerejeiras e Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd) se envolveram no trabalho com a equipe multidisciplinar da Sedam, que construirá um viveiro municipal para atender os imóveis rurais e auxiliar com mudas de árvores.
O projeto está avaliado entre R$ 1,8 milhão e R$ 2,2 milhões. O secretário estadual da Sedam, Marcílio Leite Lopes. prevê até o final de 2021 a recuperação de áreas de preservação permanente degradadas pelo assoreamento, fenômeno causado pelo acúmulo de sedimentos (areia, terra, rochas), lixo e outros materiais levados até o leito dos cursos d’água pela ação da chuva, do vento ou do ser humano.
“Serão investidos R$ 18 mil por hectare nessas áreas carentes de vegetação e sitiantes terão todo apoio nos serviços”, anunciou o secretário.
Desde 2020, a Sedam traçou o planejamento para a recuperação do potencial hídrico de nascentes degradadas e ela será feita com a recuperação da mata ciliar no entorno e nos cursos dos igarapés e rios, como informou Marcílio Lopes.
Até a década passada, o caudaloso leito do rio Araras ainda não havia sido afetado pela degradação, até que suas nascentes sofreram diminuição da vazão. A equipe multidisciplinar percorreu toda extensão degradada. Numa propriedade de 49 hectares, por exemplo, mesmo possuindo afloramento do lençol freático, uma das nascentes sem vegetação nativa ou mata ciliar no seu entorno foi recentemente escavada. Através de bombeamento, um tanque abastece outros dois tanques escavados.
A Linha 2 passa próxima a essa nascente e não dispõe de tubulações (manilha), o que alterou o curso da nascente. Há, sim, vegetação nativa com densa cobertura vegetal, porém, apenas no que deveria ser o curso da nascente 1.
CUSTO PARA RECOMPOSIÇÃO DE RIOS
Na próxima semana, o Conselho Estadual de Recursos Hídricos definirá os royalties para ajudar na recuperação da microbacia desse rio. A Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão (Sepog) destinará ainda em 2021 R$ 9,3 milhões à Sedam para recomposição da mata ciliar e recuperação de nascentes, inicialmente em Cerejeiras.
Por se tratar de uma nascente sazonal, este afloramento hídrico não deveria conter água, logicamente devido ao período de estiagem (mês de julho), no entanto, após a realização da escavação, foi feito o bombeamento d’água para nascente 2, esta, utilizada como bebedouro para o gado.
O geólogo da Coordenadoria de Geociências da Sedam, Paulo Sérgio Mendes dos Santos Júnior, responsável técnico pelo serviço, disse que a salvação de nascentes e a conservação da mata ciliar “garantem a sobrevivência de pessoas, plantas e animais”.
As próximas metas para os municípios assistidos serão brevemente anunciadas. A Sedam programa a extensão desse trabalho aos municípios de Cacoal, Espigão d’Oeste (no rio Palmeiras), Buritis, Pimenta Bueno e São Miguel do Guaporé. Lopes lembrou que o diagnóstico do rio Machado, em Cacoal, também faz parte das metas da Sedam.
“Algumas situações de perdas de nascentes já ocorrem desde algumas décadas, interrompendo a abundância da água em diferentes regiões estaduais”, explicou o secretário.
Segundo o geólogo Paulo Sérgio, o rio Araras, na zona rural de Cerejeiras, começou a ser visto pela Sedam por causa da escassez de água no ponto de captação da Caerd. “Projetamos um estudo maior para outras regiões do Estado, a fim de iniciar a recuperação de nascentes e cursos d’água agredidos ao longo do tempo”, informou.
Os diagnósticos seguem em ritmo promissor. Ao participar recentemente de cursos por videoconferências, o geólogo constatou a desinformação de pessoas de outras regiões diante da realidade amazônica ocidental. “Sempre tem alguém estranhando que, mesmo na Amazônia, exista problema de abastecimento de água”, comentou Paulo Sérgio.
DIÁLOGO
A Coordenadoria de Geociências vem projetando com educadores ambientais da Sedam outro trabalho visando educar proprietários rurais e a sociedade em geral, no sentido conservacionista em períodos de extensão de suas culturas agrícolas. O trabalho do diagnóstico facilita à Sedam conversar proximamente com os produtores rurais.
Constatando essa possibilidade, a Sedam não apenas angaria recursos financeiros para avançar no projeto de recuperação de nascentes e conservação da mata ciliar, como obtém parcerias. Dessa maneira, conforme o geólogo, o Governo se dispõe a formular novas parcerias com a Universidade Federal de Rondônia (Unir) e outras instituições de Ensino Superior interessadas em contribuir com projetos no setor.
ÁGUA É VIDA
Atualmente, 20% da população [1,4 bilhão de pessoas] não têm acesso à água potável. Esse problema situa-se em pé de igualdade com o lixo, produção de alimentos, aquecimento global e superpopulações.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no mundo aproximadamente 2 mil crianças com menos de cinco anos morrem diariamente devido a doenças diarreicas e cerca de 1.800 dessas mortes estão ligadas à água, ao saneamento e à higiene.