Por Notícia ao Minuto - Portugal
Publicada em 18/03/2021 às 16h24
A votação foi apertada, com os votos dos 50 senadores democratas e os restantes 49 dos republicanos, permitindo a Becerra, 63 anos, liderar a ambiciosa agenda sanitária do Presidente norte-americano, Joe Biden.
A agenda para a Saúde de Biden, no valor de 1,4 biliões de dólares (1,17 biliões de euros), destina-se a responder à crise pandémica, que envolve uma redução dos custos dos medicamentos, a expansão da cobertura dos seguros e a eliminação das disparidades raciais na assistência médica.
Abrange sobretudo programas de seguro de saúde, segurança e aprovações de medicamentos, investigação médica avançada, tratamento ao abuso de substâncias e ainda o bem-estar de crianças, incluindo centenas de migrantes da América Central que chegam diariamente à fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Becerra era procurador-geral da Califórnia desde 2017 e foi quem processou a Administração do anterior Presidente Donald Trump 124 vezes numa série de questões políticas, desencadeando a ira dos conservadores. Antes disso, representou um distrito da área de Los Angeles na Câmara dos Representantes por 24 anos.
Advogado, não médico, a principal experiência com o sistema de saúde aconteceu com o apoio ao Affordable Care Act, da era do Presidente Barack Obama (2009/2017), que defendeu durante a Presidência de Trump.
"Sei os enormes desafios que temos pela frente, a nossa solene responsabilidade de sermos administradores fiéis de uma agência que toca quase todos os aspetos de nossas vidas. Sou humilde perante a tarefa e estou pronto para ela", disse recentemente Becerra na audiência de confirmação.
Becerra é oriundo de uma família méxico-norte-americana da classe trabalhadora -- o pai trabalhou na construção de estradas e a mãe era secretária.
Os republicanos do Senado consideraram que Becerra não tem perfil nem experiência para o cargo, mas o novo secretário para a Saúde e Serviços Humanos contou com o apoio das associações norte-americanas dos Médicos e dos Hospitais, entre outros grupos industriais e profissionais.
Becerra foi considerado um liberal por quase um quarto de século na Câmara, mas não era visto como um incendiário de esquerda. As áreas preferidas sempre foram a educação, imigração e igualdade de tratamento para as minorias.
A agência noticiosa Associated Press (AP) refere que o perfil no novo secretário para a Saúde norte-americano era o de um "'insider' discreto" que poderia trabalhar com os republicanos.
O senador republicano John Barrasso, médico de profissão, afirmou estar "profundamente preocupado" porque Becerra "não é um médico, nem um cientista, nem um funcionário do departamento da Saúde".
"É um advogado e um político de carreira. Uma pandemia mundial não é uma altura para aprender [sobre as funções] enquanto trabalha", frisou.
Como resposta, o líder da maioria democrata do Senado Chick Schumer, considerou que os ataques e críticas de Barrasso e dos republicanos "roçam o ridículo", lembrando que não aplicaram o mesmo critério com Alex Azar, que foi secretário para a Saúde de Trump (2017/2021)
A confirmação de Becerra foi também uma derrota para os conservadores religiosos e sociais, que trabalharam para o desacreditar após ter apoiado o direito das mulheres à interrupção voluntária da gravidez.
Nas audiências de confirmação, Becerra tentou minimizar a questão, reconhecendo diferenças profundas sobre o aborto e garantindo aos senadores que seguiria a lei.
A lei diz que o aborto é legal, mas também que o dinheiro do contribuinte não pode ser usado para os pagar, exceto em casos de estupro, incesto ou para salvar a vida da mulher.