Por Andreia Fortini
Publicada em 07/04/2021 às 10h51
O dia do jornalista homenageia o trabalho dos profissionais da mídia, responsáveis por apurar fatos e levar as informações sobre os acontecimentos locais, regionais, nacionais e internacionais para as pessoas, de maneira imparcial e ética. Seja na rádio, na televisão ou nos jornais impressos, o jornalista deve sempre trabalhar tendo como base a imparcialidade e fontes de informação confiáveis.
“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade“. Citando a célebre frase de George Orwell, um dos mais experientes jornalistas da Superintendência Estadual de Comunicação do Governo de Rondônia (Secom), Célio Montezuma Caldieri Munhoz, que adotou ainda no início da carreira o codinome Montezuma Cruz é carinhosamente chamado pelos colegas de trabalho na Secom como “Sr. Monte”, também é escritor, além de ser considerado por muitos uma “biblioteca ambulante”, por ter uma memória incontestável.
Montezuma nasceu em Presidente Prudente no interior de São Paulo. Já foi engraxate, jornaleiro, locutor de alto-falante, bancário e como jornalista autodidata já exerceu praticamente todas as funções dentro de um jornal: repórter, colunista, editor, pauteiro, chefe de redação, editor de internacional, editor de economia, diretor de publicação, além de correspondente nos mais importantes jornais do país.
Hoje com 68 anos de idade, o jornalista Montezuma Cruz, completa 51 anos de carreira e se orgulha da profissão que escolheu, por influência do pai, Salvador Munhoz que foi vereador e presidente da Câmara Municipal da cidade de Teodoro Sampaio, interior de São Paulo. A carreira jornalística foi construída por experiências adquiridas numa espécie de peregrinação por milhares de quilômetros pelas cinco regiões do Brasil, de Norte a Sul.
DO JEITO QUE VI
O livro “Do jeito que vi” publicado em 2013, traz fragmentos da trajetória do repórter profissional Montezuma Cruz de Norte a Sul do País. Em suas 144 páginas as histórias divididas em capítulos vão desde “Um jornaleiro na escuridão” a “Pedro, o mais forte sinônimo do Araguaia” em que o jornalista relata experiências pessoais na profissão.
Os relatos contam fatos que aconteceram entre os anos de 1976 e 1977, vislumbrando mais do que uma boa oportunidade de trabalho quando o repórter resolveu vir para o norte do País para realizar um sonho de quando era menino: conhecer a Amazônia que tanto o “fascinava”.
“Sobreviveria da profissão em Porto Velho (RO), reforçado pelo pró-labore, e das viagens proporcionadas pela Folha de S. Paulo. Coloquei as tralhas no ônibus e fui embora”, relata na página 64.
O jornalista diz ainda que lia histórias de frentes pioneiras, da formação das primeiras lavouras de café, dos indígenas, do Rio Madeira e da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
O jornalista Montezuma Cruz chegou a Rondônia em 1976, presenciou o apogeu da Província Estanífera, o burburinho do Mercado Central e da Feira do Cai n’Água, e o ritmo frenético do antigo Café Santos, local de reunião de autoridades, jornalistas e populares. Viu funcionar o Centro de Triagem de Migrantes em Vilhena e viu chegarem os recursos do Polamazônia e do Polonoroeste (programas de desenvolvimento que impulsionaram a transformação do antigo Território Federal em Estado).
Em Rondônia foi correspondente dos jornais O Globo, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo. De 1983 a 1986, atuou como correspondente de O Globo, foi repórter de A Tribuna, editor de Política de O Estadão de Rondônia (depois do Norte), correspondente do Jornal do Brasil, repórter da sucursal do Diário de Rondônia (de Ji-Paraná), editor de O Garimpeiro e de O Imparcial (jornal transferido de Guajará-Mirim para a capital rondoniense). Também na época, foi o primeiro editor do Programa Bom Dia Rondônia, da TV Rondônia (Rede Amazônica de Televisão). Foi um dos editores do Barranco, jornal alternativo que circulou entre os anos de 1979 e 1981, e repórter da sucursal rondoniense da extinta Empresa Brasileira de Notícias (EBN), supervisionada na época (1983-1984) pelo Ministério da Justiça. Entre 1999 e 2004 foi assessor de imprensa do ex-senador Amir Lando. Entrou no antigo Departamento de Comunicação (Decom) do Governo de Rondônia em 2014, hoje Superintendência Estadual de Comunicação (Secom).
JORNALISMO AMBIENTAL
Entre os temas abordados em suas reportagens, Montezuma destaca o jornalismo ambiental e indígena como sua paixão. “Quando cheguei aqui ainda era Território Federal de Rondônia, acompanhei levas de agricultores expulsos pela formação do lago da Hidrelétrica de Itaipu. Percorri as jazidas de minério de estanho (cassiterita), garimpos de ouro e aldeias indígenas. Cobria a luta dos posseiros e denunciava o jaguncismo armado”, relembra o experiente jornalista.
Os anos de 1976 a 1979 foram classificados por Montezuma Cruz como os mais difíceis como jornalista correspondente. “Foi um período em que os agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) camuflavam-se na Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) de Porto Velho para ‘bisbilhotar’ as cabines de telex. Sabiam o que os jornalistas apuravam para os seus jornais em São Paulo e no Rio de Janeiro. Conseguiam até cópias das matérias. Além de “escritório” de trabalho dos correspondentes, “as cabines funcionavam como ponto de encontro com algumas de suas fontes”, relata o jornalista na página 83 do livro Do jeito que vi.
Mas foi a partir de 1989 que as pautas socioambientais sempre prevaleceram em suas reportagens. Cobria a descontaminação de mercúrio em garimpos no município de Poconé, a fauna e a flora do Pantanal, e a corrida do ouro na região do “Nortão” mato-grossense. Nos anos 90 ao representar o Estado num seminário ambiental promovido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), no auditório do Banco Central, em Brasília (DF), apresentou um relatório dos problemas ambientais do estado, denunciando na época a poluição nos rios da Região Norte.
“Fazer jornalismo é uma forma de viver, de olhar para o mundo e para si próprio. Fazemos reportagens de interesse público, que dão voz à luta e às demandas da sociedade.”
JORNALISTA PREMIADO
Em julho de 1977, Montezuma Cruz venceu o Prêmio Hipólito da Costa com uma série de sete reportagens denominada “A fronteira esquecida” sobre a fronteira Brasil-Paraguai-Argentina. Numa excursão pela fronteira brasileira com o Paraguai, o repórter constatou que algumas localidades sul-mato-grossenses como Porto Murtinho, Nioaque e Ilha Margarida, viviam praticamente paradas no tempo. As reportagens foram publicadas na Folha de S. Paulo, A Gazeta e Folha da Tarde.
“O prêmio teve o valor de mil cruzeiros, uma grana razoável na época.”
O reconhecimento, é mérito. Meticuloso com as palavras, Montezuma preza pela escolha das que melhor definem as situações, nada de substituições ruins ou desapropriadas. Condena repetições, pleonasmos, cacofonias, ou uso inadequado dos verbos. Para o jornalista, pior o texto quanto mais incorretas estiverem as informações nele contidas, ou mal estruturados forem os parágrafos.
Como jornalista “da escola antiga”, Montezuma analisa o jornalismo atual do tempo real com uma certa preocupação. “Hoje o imediatismo é perigoso, a ânsia de divulgar a informação pode prejudicar a apuração correta da notícia”.
O jornalista ainda não pensa em parar. “O jornalismo corre nas veias e quanto mais se vive mais se quer viver nessa profissão. Aprendemos a cada dia e temos que tirar o maior proveito disso. Eu nunca imaginava na minha vida que nós estaríamos com nossas idades diferentes enfrentando as mesmas vivências com essa pandemia”, compara o jornalista com a gripe espanhola.
COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL
Para Montezuma Cruz a comunicação institucional deve ser encarada como uma ferramenta positiva e levada a sério, como faz a gestão do governador, coronel Marcos Rocha. “Uma informação mal explicada induz a dezenas de interpretações. A informação deve ser solidificada e não diluída, na comunicação governamental. Fazendo isso estaremos nos realizando profissionalmente”, conclui o jornalista.
Fotos: Frank Nery e Ésio Mendes