Em pouco mais de uma hora de espetáculo sem diálogos, Companhia de Artes Fiasco retrata os ciclos de abusos enfrentado por inúmeras mulheres ribeirinhas na Amazônia de forma intensa e sensível, levando o público a uma reflexão sobre como a lenda indígena do boto é, muitas vezes, usada para justificar a gravidez dessas vítimas. Durante o bate-papo, o diretor e dramaturgo Fabiano Barros contou que um dos objetivos da montagem era contar essa história, baseada em relatos reais, sem fazer julgamentos de valor.
Questionado sobre como a Companhia chega a temática de As Nove Luas, o dramaturgo explica que veio a partir do trabalho de conclusão do curso de Teatro, cujo tema tratava da humanização de mitos e lendas na dramaturgia amazônica. “Comecei a pesquisar sobre como os dramaturgos traziam essa coisa da lenda para o real. Existem vários textos que falam da força do imaginário amazônico, trazendo muitas vezes para realidade. E eu queria entender como isso se dava nas comunidades”.
Fabiano conta que a lenda do boto para as comunidades se trata de algo real, uma verdade. “Mas se a gente olha pelo lado racional e faz uma pesquisa, percebe que essas meninas da comunidade na verdade eram abusadas por pais, irmãos, vizinhos, tios e tudo isso virava um segredo dentro dessa comunidade, e levava-se a responsabilidade da gravidez para o boto”, explica o diretor.
O principal desafio da companhia era trazer o tema para o espetáculo sem julgamento. Tanto que a montagem traz o olhar desse imaginário do boto e também o do abuso. “A gente traz dessa forma que é para o público pensar: da mesma forma que existe uma lenda muito forte, que as pessoas acreditam, também há essa questão da violência”.
O mergulho nas lendas amazônicas deu origem a outras montagens da Cia Fiasco, como a Ópera do Beradeiro, que traz a lenda da Iara, e D’água e Lama, onde o grupo trabalha a questão do corpo do beradeiro e a relação dele com a água e com a lama.
Para quem perdeu o Casa em Cena da última sexta, a transmissão completa do espetáculo mais o bate-papo está disponível no canal do YouTube do ator e comunicador Juraci Júnior, idealizador do projeto. Assista:https://youtu.be/iuONtbc7vcg
O terceiro e último espetáculo da programação especial do Casa em Cena será exibido nesta sexta-feira, 16. Frei Molambo tem texto de Lourdes Ramalho, com montagem do Grupo Raízes do Porto.
O projeto Casa em Cena foi contemplado no edital nº 77/2020/ SEJUCEL-CODEC - 1ª Edição Mary Cyanne do Edital de Chamamento Público de Fomento à Cultura e à Produção Artístico-Cultural para transmissões ao vivo/gravadas – Lei Federal 14.017/2020 (Lei Aldir Blanc).
Canais de exibição:
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