Por Notícia ao Minuto - Portugal
Publicada em 05/04/2021 às 15h16
"O dever de almirantes na reforma consiste em não emitir declarações que subentendem um golpe de Estado político. Nenhum funcionário na reforma tem o direito de optar por semelhante caminho", declarou Erdogan durante um discurso em Ancara.
"Isto nada tem que ver com a liberdade de expressão. Num país cuja história está repleta de golpes, isto é inaceitável", acrescentou Erdogan.
O chefe de Estado turco pronunciava-se após uma reunião na Presidência com altos responsáveis turcos, relacionada com uma carta aberta publicada no fim de semana por 104 antigos almirantes e em que alertam contra a ameaça que na sua perspetiva poderá representar o projeto do "Canal Istambul" apoiado por Erdogan, que poderá colidir com um tratado que garante a livre circulação pelo estreito do Bósforo.
Erdogan considerou a carta de "perversa", ao afirmar que na Turquia "os golpes de Estado ocorreram sempre após semelhantes declarações".
O Governo argumenta que o Canal Istambul permitirá fornecer à grande metrópole um novo polo de atração, e ainda aliviar a circulação marítima no Bósforo, um dos estreitos mais congestionados do mundo.
Os opositores argumentam que, para além do impacto ambiental, o projeto poderá comprometer a Convenção de Montreux, estabelecida em 1936 e que garante livre passagem nos estreitos do Bósforo e dos Dardanelos, em tempo de paz ou de guerra.
No entanto, o tratado impõe restrições à passagem pelos estreitos turcos de navios de guerra que não pertençam aos países ribeirinhos do mar Negro.
De acordo com diversos observadores, citados pela agência noticiosa AFP, um eventual questionamento do tratado através da construção do Canal Istambul poderá facilitar o acesso ao mar Negro de navios de guerra norte-americanos, que a Rússia encara com particular apreensão.
"A ligação feita [pelos almirantes] entre o Canal Istambul e a Convenção de Montreux é totalmente falsa", afirmou Erdogan.
"Não temos a intenção de abandonar [o projeto]. Caso se sinta essa necessidade no futuro, poderemos alterar qualquer convenção para que o nosso país siga em frente", acrescentou.
"Consideramos importantes as vantagens que Montreux oferece ao nosso país, e permanecermos associados a este acordo até encontrarmos melhores oportunidades", assegurou ainda.
Dos 104 almirantes assinaram a carta aberta, dez foram hoje colocados em prisão preventiva.