Por Folk Produções
Publicada em 27/04/2021 às 13h52
Para quem perdeu o seminário online Flor do Maracujá: o Saber Popular no Coração do Porto-velhense, ocorrido no último final de semana, o evento está disponível na íntegra no YouTube. Nele, personagens importantes que fazem parte da história do festival folclórico e os pesquisadores falaram sobre a construção da festa e transformações que ocorreram ao longo dos anos em seu formato.
O objetivo da pesquisa, reforça Juraci Júnior, era catalogar as principais características da construção sociocultural do arraial sob a perspectiva da própria comunidade envolvida no processo, dando à ela o protagonismo sobre essa narrativa. Entre os personagens entrevistados e que estiveram presentes no evento online, está a professora Maria de Nazaré Figueiredo da Silva, grande idealizadora do Flor do Maracujá; Roberto Matias, representante das quadrilhas e Presidente de Honra da Quadrilha Rosa Divinas; Fernando Rocha Presidente da Federação de Quadrilhas e Bois-Bumbás de Rondônia (Federon); e Silvio Santos, o Zé Katraca, representante dos bois-bumbás.
De acordo com a pesquisa, os arraiais juninos no Brasil apresentavam profunda afinidade e influência de elementos culturais europeus, africanos e indígenas. Em Rondônia, os primeiros registros de arraiais e bois-bumbás são de 1920. A primeira mostra de quadrilhas e bois-bumbás foi realizada em 1982 e no ano seguinte, 1983, nascia o Arraial Flor do Maracujá, cujo nome é uma homenagem a uma quadrilha homônima realizada pelo senhor Joventino Ferreira Filho, no Bairro Triângulo.
As danças caipiras e bois-bumbás apresentavam, à época, uma linguagem coloquial e dos meios nordestinos e sertanejos da quadrilha caipira do interior paulista e do Bumba-Meu-Boi do Maranhão, explica a professora doutora Ivete de Aquino Freire. Características que foram mudando no decorrer dos anos do Flor do Maracujá, que sofreu alterações também em seu formato. A mostra, por exemplo, passou a ser um concurso entre os grupos participantes.
Em sua contemporaneidade, o festival passa de uma teatralização original para temática em suas apresentações, onde as agremiações passam a ressignificar suas experiências estéticas diante das influências da indústria cultural e fortalecem a dinâmica competitiva. Os bois-bumbás agora sofrem uma influência maior dos bois de Parintins e as quadrilhas, por sua vez, vem se orientando por uma estética nordestina na dança.
Essa característica foi exemplificada na fala de Fernando Rocha durante o evento. Ele conta que o formato de quadrilhas que ele encontrou ao chegar em Rondônia, só havia visto no Nordeste, sua região de origem. Destacou também o fato da festividade porto-velhense manter vivos personagens que em outras regiões não estão mais presentes nas apresentações, como os cangaceiros, e criar personagens com características regionais, como o caçador e seringueiro. “Isso é muito importante e são personagens que a gente só tem aqui”, reforça o presidente da Federon.
Ao final, de acordo com a pesquisa, nota-se que as apresentações dos grupos, tanto de bois-bumbás quanto de quadrilhas, estão aos poucos deixando de ser uma brincadeira de grupo com predominância de improvisos para se assumirem como espetáculos grandiosos.
O projeto de pesquisa “Flor do Maracujá: o Saber Popular no Coração do Porto-velhense” foi contemplado no Edital nº 83/2020/SEJUCEL- CODEC - 1° Edição Alejandro Bedotti do Edital de Chamamento Público de Fomento à Cultura para Pesquisa e Desenvolvimento de Expressões Culturais. Lei Federal 14.017/2020 - Lei Aldir Blanc.
O seminário também contou com a participação do superintendente da Sejucel Jobson Bandeira e do professor e historiador Aleks Palitot. Assista ao evento completo aqui: https://youtu.be/O0Rb0FsyzJM.