Por France Presse
Publicada em 04/05/2021 às 09h31
Um balanço da Defensoria do Povo, órgão público de fiscalização do governo da Colômbia, estimou nesta segunda-feira (3) que 19 pessoas morreram e mais de 800 ficaram feridas durante a violência nos protestos no país contra um projeto de reforma tributária. O número foi atualizado nesta tarde.
Desse total de mortos, 18 eram civis e um era policial. O ministério da Defesa, em outra contagem, diz que 846 pessoas se feriram nas manifestações — 306 deles, civis. Os protestos começaram em 28 de abril.
As autoridades prenderam 431 pessoas durante os distúrbios, e o governo ordenou que os militares fossem enviados para as cidades mais afetadas. Algumas ONGs acusaram a polícia de atirar contra civis.
O ministro da Defesa, Diego Molano, garantiu que os atos de violência foram "premeditados, organizados e financiados por grupos dissidentes das Farc" que se afastaram do acordo de paz assinado em 2016, e pelo ELN, a última guerrilha reconhecida na Colômbia.
O governo também reportou atos de vandalismo em 69 estações de transporte, 36 caixas eletrônicos, 94 bancos, 14 pedágios e 313 estabelecimentos comerciais.
Pressionado pelas manifestações nas ruas, o presidente Iván Duque ordenou no domingo a retirada da proposta que era debatida com ceticismo no Congresso, onde um amplo setor a rejeitava por punir a classe média e ser inadequada em meio à crise desencadeada pela pandemia de coronavírus.
Nesta tarde, o ministro da Fazenda da Colômbia, Alberto Carrasquilla, renunciou ao cargo. Ele será substituído pelo economista José Manuel Restrepo, atual ministro do Comércio, anunciou o presidente Duque no Twitter.
"Minha continuidade no governo dificultaria a construção rápida e eficiente dos consensos necessários" para executar uma nova proposta de reforma, informou Carrasquilla em um comunicado.
Apesar do anúncio, na manhã desta segunda-feira já havia pessoas nas ruas e bloqueios de estradas em Bogotá. Os protestos também continuaram em outras grandes cidades do país, como Cali, Medellíin e Barranquilla.
Reforma tributária
O governo apresentou a reforma tributária ao Congresso em 15 de abril como uma medida para financiar os gastos públicos na quarta maior economia da América Latina.
Desde a sexta-feira, o presidente Duque havia anunciado que reformularia o projeto. No domingo, detalhou os alcances da nova proposta, que excluirá o aumento do IVA sobre bens e serviços e a ampliação da base de contribuintes ao imposto de renda, os pontos mais controversos da "Lei de solidariedade sustentável".
O governo justifica a reforma dizendo que ela é necessária para "dar estabilidade fiscal ao país, proteger os programas sociais dos mais vulneráveis e gerar condições de crescimento depois dos efeitos provocados pela pandemia de Covid-19", segundo disse o presidente
As críticas vieram tanto da oposição política quanto de seus aliados, e o descontentamento logo se espalhou pelas ruas. Cada protesto foi seguido por tumultos e confrontos com as forças de segurança.
Com a reforma, o governo pretendia arrecadar cerca de 6,3 bilhões de dólares entre 2022 e 2031, para resgatar a economia.
Em 2020, o PIB da quarta maior economia da América Latina encolheu 6,8%: seu pior desempenho em meio século. O desemprego disparou para 16,8% em março e 3,5 milhões de pessoas caíram na pobreza em meio à crise econômica provocada pela pandemia.
Desde 6 de março de 2020, quase 2,9 milhões de pessoas contraíram o coronavírus no país, das quais 74.215 morreram.