Por Folha do Sul
Publicada em 27/05/2021 às 09h54
Há alguns dias , a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou a reformulação para 2022 do Campeonato Brasileiro Feminino Série A2, e a criação de uma nova divisão da competição nacional, a Série A3.
De acordo com a CBF, assim como a Série A1, a partir do ano que vem, a Série A2 contará com 16 equipes. Dos 36 clubes que disputam a Série A2 este, apenas as 16 primeiras asseguram permanência na divisão.
Para falar sobre a novidade, a reportagem conversou com a ex-atleta e dirigente Viviane Andrade e com o treinador do Real Ariquemes Paulo Eeduardo.
Descoberta jogando entre os meninos no vilarejo de Jaci Paraná, um distrito de Porto Velho, Viviane Andrade defendeu diversos clubes rondonienses e atuou também fora do estado. “Meu primeiro contato com o futebol foi ali, jogando no meio dos meninos”, lembra a ex-atleta que aos 14 anos se mudou para Porto Velho para atuar em equipes amadoras antes de chegar ao Genus. “Foi no Genus que começou minha história nos estaduais. Defendi o Genus por sete anos, antes de ir para o Juventus e depois para o Tiradentes do Piauí”.
A ex-atleta acumula também uma passagem como treinadora, conquistando, inclusive, o vice-campeonato Rondoniense Feminino com Barcelona em 2018. “Foi uma experiência que me colocaram nesta situação. Em 2017, quando foi fundado o Barcelona de Vilhena, o professor Tiago Batizoco, profissional que tem a minha adminiração, me convidou para assumir a equipe feminina do Barcelona. Montamos a equipe e fomos vice-campeãs, perdendo nos pênaltis a decisão. Mas, eu não peguei amor pelo ofício não. Ser treinadora não é o que eu busco” confessou revelando que prefere a atuação como dirigente.
Este ano, Viviane Andrade foi gerente de futebol do Guaporé e, a lado do Irani e Almeida, foi responsável pela formação do elenco que disputou. Ela deixou o clube antes da estreia da equipe no Rondoniense, mas o elenco que chegou até semifinal tinha o dedo dela. “O Guaporé me trouxe um novo aprendizado”.
Para Viviane, dona desse currículo descrito acima, a criação da Série A3 é uma conquista para o futebol feminino. A ex-atleta disse que esperava por isso e defendeu que o maior acerto da CBF em muito tempo foi colocar mulheres para decidir sobre o futebol feminino. “Toda vez que eu falo do futebol feminino eu me emociono porque quem começou lá atrás, sentiu muito na pele a falta de espaço; você querer fazer e não poder porque não te deixavam. Hoje, você ver as mulheres tomando postos que são de merecimento delas porque elas têm capacidade pra isso, nos deixa muito alegre”, ponderou.
Para Viviane Andrade, a consolidação da Série A2 aos moldes da Série A1 vai permitir aos clubes um calendário anual que trará segurança no planejamento das agremiações para a temporada; e a criação de uma nova divisão dará oportunidades a mais clubes de disputarem uma competição nacional. “Essa Série A3 vai dar uma esperança muito maior pra essa nova juventude. E eu espero que essa nova geração que está vindo brigue como nós brigamos lá atrás para termos esse espaço. Espero que elas não se acomodem, porque essa geração que brigou tanto vai parar um momento”, disse.
Sobre o cenário estadual, Viviane Andrade lamentou a falta de apoio ao futebol feminino, apontou um caminho que ela entende que possa proporcionar o crescimento da categoria no Estado e citou o Real Ariquemes como um modelo para os demais clubes.
“As nossas equipes não se destacam porque não lhes são oferecidas condições. As equipes têm dois ou três meses para trabalhar pra um campeonato de dois ou três dias. Muitos times não investem nesses três meses, apenas emprestam a camisa. Então, aquela equipe que treinou, que se preparou, ela vai ter um destaque. E o caso do Real Ariquemes, que tem sido o nosso melhor representante nos últimos anos. O Real tem investido na modalidade. Tem colocado pessoas lá que têm a sensibilidade do futebol feminino”, disse.
O Real Ariquemes, que após duas rodadas está na segunda colocação do Grupo A1 do Brasileiro Feminino Série A2, com duas vitórias conquistadas fora de casa, tem no comando técnico o treinador Paulo Eduardo, a quem Viviane Andrade não economizou elogios. “Eu acredito muito no trabalho do Paulo Eduardo, ele é um treinador novo, muito estudiosos, e tem uma sensibilidade muito grande para trabalhar com mulheres. Ele é um cara que chegou, se adaptou e deu condições das meninas se adaptarem ao trabalho dele. Um trabalho inovador, um trabalho diferente, um trabalho novo, um trabalho sério”, elencou Viviane afirmando acreditar na classificação do Real às oitavas de final, o que manteria o time na Série A2 em 2022 e abriria uma vaga para outra equipe do Estado na Série A3.
Para finalizar, a ex-atleta disse acreditar que o primeiro passo para o crescimento do futebol feminino no estado seria a criação de um departamento de futebol feminino dentro da Federação. “A implantação do departamento de Futebol Feminino, como anos atrás já teve, sob o comando da nossa saudosa Nazaré, que Deus já a levou. Quando ela estava na Federação tínhamos duas ou até três competições anuais”, lembrou antes de concluir: “O segundo passo seria os clubes profissionais, mesmo com as dificuldades, abrirem espaços para que tenham as suas equipes femininas”.
A reportagem conversou também com Paulo Eduardo, profissional que há anos trabalha com o futebol feminino e que hoje é o treinador do Real Ariquemes, clube que está no G2 do Grupo A1 do Campeonato Brasileiro Feminino Série A2.
O treinador confirmou a fala de Viviane de Andrade sobre os investimentos do Real Ariquemes no Futebol Feminino. Segundo Paulo Eduardo, o Real dispõe de um departamento dedicado ao futebol feminino. “O presidente Chico Pinheiro dá uma atenção grande a modalidade, e oferece toda a estrutura necessária para que o trabalho seja de grande valia. Temos um Staff todo voltado para o feminino, desde treinador, preparador físico, treinador de goleiros, massagista, fisioterapeuta, supervisor até assessor de imprensa”, revelou o treinador que disse ainda que o investimento do Real no departamento de futebol feminino é maior do que alguns clubes masculinos profissionais do estado de Rondônia.
Para Paulo Eduardo a criação da Série A3 acaba democratizando ainda mais o futebol feminino. “Trará dificuldade em virtude do formato mata-mata, mas é uma oportunidade para que mais clubes consigam participar dessa competição. Mais atletas, mais treinadores, mais investimentos”, analisou.
A eventual classificação do Real para a fase e oitavas de final assegura o time do Vale do Jamari na Série A2 e abre vaga na nova divisão para outro time de Rondônia. “O objetivo principal é o acesso à Série A1, mas temos objetivos primários; e o primeiro deles é se classificar para as oitavas, e assim garantir a permanência na Série A2”, ponderou.
Em comum, Viviane Andrade e Paulo Eduardo têm o sonho de ver um futebol feminino forte, competitivo e valorizado, e acreditam que cada conquista, como a anunciada pela CBF para 2022, é um passo na direção da realização desse sonho.