Por G1
Publicada em 01/05/2021 às 09h39
A Índia ultrapassou 400 mil novos casos de coronavírus em 24 horas neste sábado (1º), um novo recorde global. O país é o primeiro a chegar a esse número de infecções em um dia durante a pandemia.
O país passa por uma onda de contágios, com recordes sucessivos de número de infectados.
De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados 401.993 novos casos nas últimas 24 horas, elevando o número total de infectados no país a 19,1 milhões.
O Ministério da Saúde também informou que 3.523 pessoas morreram por causa da Covid. O país tem agora 211.853 óbitos pela doença.
Quase metade das infecções no planeta
A Índia havia registrado, na sexta-feira (30), o oitavo recorde mundial de casos confirmados de Covid-19 nos últimos nove dias, segundo dados do governo e do "Our World in Data". Foram 386.452 infectados e 3.498 mortes em 24 horas.
Com mais de 2,5 milhões casos e 21 mil mortes nos últimos sete dias, o país foi responsável por 43% de todos os novos infectados e 23% de todos as óbitos do planeta no período.
Em meio à segunda onda na Índia, o mundo superou os 150 milhões de casos confirmados, apontam dados da Universidade Johns Hopkins e do "Our World in Data", projeto ligado à Universidade de Oxford.
O segundo país mais populoso do mundo, com mais de 1,3 bilhão de habitantes, passa por um colapso em seu sistema de saúde e funerário, sofre com uma vacinação ainda lenta e o governo tem sido criticado pelo combate à pandemia.
Caos nos hospitais
Hospitais estão sem remédios e oxigênio, e parentes são obrigados a comprar os cilindros para os internados. Sem leitos, doentes aguardam em ambulâncias, em carros particulares e até na rua por uma vaga.
Os preços dos insumos dispararam no mercado paralelo, e atravessadores vendem oxigênio até na porta dos hospitais. Desesperados, muitos compram remédios de procedência duvidosa e suprimentos a preços exorbitantes. Também há diversos relatos de golpes.
"Não achamos oxigênio", relata Mukesh Kashyap, que havia acabado de incinerar sua esposa de 38 anos. "Fomos aos maiores hospitais particulares da cidade e finalmente um pequeno hospital me fez pagar € 55 por uma hora de oxigênio [mais de R$ 350]".
Arrasado, Kashyap afirmou que ela melhorava com o oxigênio. "Mas depois os sintomas voltaram. Tentamos achar um leito, mas ela não resistiu. Os médicos não puderam salvá-la".
Crematórios no limite
Crematórios e cemitérios não conseguem atender à quantidade de corpos, e funerais em massa têm sido realizados em diversas cidades. As cerimônias feitas sob o protocolo da Covid-19 são muito superiores aos dados do governo.
Em Nova Délhi, o número de cremações aumentou cinco vezes. A prefeitura da capital está tentando aumentar a capacidade dos locais construindo incineradores até na grama, do lado de fora dos estabelecimentos.
Com o sistema de saúde em colapso, muitos infectados morrem em casa e não entram para a estatística oficial.
Críticas ao governo
A segunda onda saiu de controle no país após o governo indiano ter falado em "fase final da pandemia" em março e ter flexibilizado as medidas de restrição, liberando comícios, festivais religiosos (veja no vídeo abaixo) e até partidas de críquete com estádios lotados.
Os comícios eleitorais do Bharatiya Janata Party (BJP), partido do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, continuam a ocorrer e a levar multidões às ruas mesmo com os recordes diários de casos e mortes.
Modi, que adotou um dos lockdowns mais pesados do mundo no ano passado, se recusou a adotar a medida novamente neste ano para não afetar a recuperação da economia. E agora o governo tem enfrentado duras críticas.
O governo indiano tem atribuído a explosão de casos e mortes ao não uso de máscaras pela população e ao desrespeito ao distanciamento social. E pediu ao Twitter recentemente que tirasse do ar dezenas de posts com críticas ao governo.
Vacinação contra Covid
Em meio às críticas, o governo anunciou que vai expandir a vacinação contra a Covid-19 para pessoas entre 18 e 44 anos a partir deste sábado.
Mas vários estados já enfrentam há semanas falta de doses e muitos indianos relataram nas redes sociais problemas em conseguir agendar a sua vacinação.
A Índia é o terceiro país com mais doses aplicadas do mundo (147 milhões), atrás apenas da China (243 milhões) e os Estados Unidos (234 milhões).
Mas, proporcionalmente, o país aplicou só 10,66 vacinas a cada 100 habitantes, número inferior à média mundial (13,93) e à China (16,95) e muito menor que o dos EUA (70,16).
A variante indiana
Suspeita de ser um dos motivos da segunda onda na Índia, a variante B.1.617 já foi detectada em dezenas de países e ainda provoca muitas dúvidas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz não saber se o maior índice de casos e mortes no país se deve ao fato de a cepa ser mais agressiva, à situação do sistema de saúde indiano ou a ambos.
Segundo a organização, a segunda onda pode ter sido causada por "outros comportamentos", como o não cumprimento de restrições sanitárias e o elevado número de aglomerações.
A OMS classificou a cepa indiana como uma "variante de interesse", não como "preocupante" (VOC).
Atualmente, as variantes classificadas como "preocupantes" são a brasileira, a britânica e a sul-africana. Elas são as mais perigosas (mais contagiosas, mais letais e capaz de resistir a vacinas).