Por Andréia Fortini/Secom
Publicada em 29/06/2021 às 11h12
O Governo de Rondônia, por meio da Superintendência Estadual da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel), realiza nesta terça-feira (29) o lançamento do livro “Na imensidão da floresta: Gakamam Suruí e suas memórias”. A obra foi produzida com o apoio da Lei Federal Aldir Blanc e apresentada no domingo (27) para a comunidade indígena Paiter na aldeia Gapgir. O lançamento oficial do livro será feito durante uma live nesta terça-feira (29) de 17h30 às 19h pelo canal do Museu Paiter A Soe com convidados e público externo.
De acordo com um dos autores, o professor e coordenador do Museu Paiter A Soe, Luiz Weymilawa Suruí, que mora na Aldeia Gapgir na linha 14 em Cacoal, o livro “Na imensidão da floresta: Gakamam Suruí e suas memórias” foi idealizado a partir do Capítulo 3 do seu trabalho de conclusão de curso (TCC), defendido no final de 2015. “O livro traz histórias contadas pelo meu pai Gakamam Suruí. Em 2016 foram feitas algumas oficinas para revisão do texto, agora em 2021 as ilustrações e novas informações foram acrescentadas ao texto. O processo total durou aproximadamente cinco anos”, destacou o autor.
SOBRE A OBRA
Lançamento oficial do livro será feito durante uma live pelo canal do Museu Paiter A Soe
O livro “Na imensidão da floresta: Gakamam Suruí e suas memórias” contém a história de dois Amõs Gapgir (um dos clãs do povo Paiter Suruí), que lideraram o povo Paiter Suruí no passado e a narrativa de parte da vida do Gakamam, com ênfase nos lugares que ele percorreu na floresta do Mato Grosso e Rondônia.
A maior parte da narrativa retrata a vida anterior ao contato com a sociedade não indígena, contando a respeito de muitas guerras entre os povos indígenas dessa região e que hoje convivem pacificamente entrem si. O livro conta também com ilustrações feitas pelos jovens Paiter, com um mapa de lugares percorridos pelos Paiter baseado na orientação do mapa mental do Gakamam e com um glossário bilíngue, notas de rodapé que explicam parentesco, terminologia, hábitos e revelam que há termos do tupi-mondé hoje esquecidos.
Gakamam é “aquele que mede a roça de ponta a ponta”. É a pessoa mais velha do clã Gapgir. Casado com Imakor Suruí: “aquela que faz chicha, e durante preparo da bebida, fica mexendo a panela com concha fazendo movimento circular” uma sabedora da cultura Paiter, trabalhadora incansável que o acompanha em meio a tantas guerras e nas grandes travessias do povo Paiter. Juntos Gakamam e Imakor tiveram oito filhos.
AUTORES
Gakamam é considerado um dos mais importantes e melhores autores orais do livro dos Paiter ey Suruí, Vozes da origem, publicado pela primeira vez em 1996 e em segunda edição em 2007, em português. Em oficinas voltadas para a educação indígena e com a presença de todo o povo, Gakamam narrou e gravou, também em sua língua, muitos mitos e histórias do povo Paiter ey Suruí. O material foi gravado pelos filhos que também transcreveram em tupi-mondé e em português tudo o que ouviam. Gakamam sempre destacou que a verdadeira história dos Gap gir ey, o seu clã, não fora contada; gostaria muito de ter ouvintes, para as gerações vindouras lembrarem e escreverem.
Um deles é o filho de Gakamam, Luiz Weymilawa Suruí, professor indígena, mestre em Educação Escolar pela Universidade Federal de Rondônia (Unir), que recebeu o prêmio Educador Nota 10 da Fundação Victor Civita em 2016 e ganhador do Prêmio Professores do Brasil em 2018 (MEC). Idealizador e diretor do Museu Indígena Paiter A Soe, que trabalha da educação patrimonial da cultura material, imaterial e valorização do etnoconhecimento Paiter. Articulador da Rede Indígena de Memória e Museologia Social da Região Norte. Agora realiza o desejo do pai ao lançar este livro. Weymilawa teve influência de linguistas, mas criou um estilo próprio, literário. Como professor indígena, estimula seus alunos a conhecerem a literatura brasileira e universal e a escreverem no próprio idioma.
LEI ALDIR BLANC
Em 2020, por intermédio da Lei Federal Aldir Blanc, o Governo de Rondônia conseguiu recurso emergencial de R$ 18 milhões para que a classe artística não ficasse desassistida. Agora a Sejucel já colhe frutos de um intenso trabalho, do mapeamento dos artistas à elaboração e aplicação dos 10 editais e ao pagamento do auxílio emergencial. Tudo foi desenvolvido de forma hábil, em contato direto com os profissionais da Arte e Cultura, para que pudessem ter seus projetos contemplados o mais rápido possível. Ao todo, 308 projetos foram apresentados pela classe artística.
“Na imensidão da floresta: Gakamam Suruí e suas memórias” foi financiado pela Lei Aldir Blanc, pelo edital nº85/2020/SEJUCEL-CODEC. Esta foi a 1ª Edição Urucumacuã do Edital de Premiação para Difusão Cultural dos Povos Tradicionais Indígenas – Eixo III Publicações de Livros e Revistas Culturais.