Por TJ-RO
Publicada em 18/06/2021 às 12h14
Além de levar muitas vidas, a pandemia da Covid-19 trouxe muitas incertezas sobre o futuro. Para a população autista e seus familiares esse cenário é ainda mais desafiador. Nos últimos anos, o tema vem ganhando visibilidade e, por consequência, direitos foram ampliados. Dentre essa população estão servidores, servidoras, magistrados e magistradas do Tribunal de Justiça de Rondônia, que por meio do compartilhamento de experiências jogam luz sobre a necessidade de mobilização. Em constante adaptação, pais e responsáveis por autistas relatam as dificuldades para equilibrar o distanciamento social e o incentivo à socialização. A partir dessa nova realidade, famílias que convivem com o autismo tentam chamar a atenção para o risco de retrocesso.
O autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento que pode afetar a linguagem, a criatividade, e principalmente, a socialização. Dentre os principais comportamentos estão apego a rotinas, estereotipias e até restrição alimentar que são combatidas com terapias especializadas. Com a pandemia, em um primeiro momento de medidas mais severas de restrição, terapias chegaram a ser suspensas ou até interrompidas por questão de segurança, visto que muitos autistas se negam a usar máscara, o que trouxe consequências para o desenvolvimento.
É como se o autista vivesse em um universo bem particular, com suas próprias regras e linguagem. Tentar tirá-lo desse universo e inseri-lo na vida social, garantindo autonomia, é o principal objetivo, mas nesse período, o convívio social, dito como mais importante no tratamento, foi quebrado. Parece um paradoxo: o mundo inteiro adotando regras de convivência que estimulam o isolamento, enquanto pais de autistas travam uma batalha diária para estimular atitudes que tentam combater o comportamento isolado, buscando a socialização.
Dentre os principais profissionais habilitados para atender o paciente autista está o psicólogo, que atua durante o diagnóstico e também acompanha a evolução, indicando as melhores condutas a serem reforçadas pelos pais e outros profissionais que atuam com a criança. Mas nem a experiência e a atuação profissional da psicóloga e servidora da comarca de Colorado Do Oeste, Naiane Camargo Michelin, foram suficientes para enfrentar sozinha os novos desafios impostos pelo isolamento e convívio com seu filho Théo, de seis anos. “Foi preciso o envolvimento de toda a família, meu marido, minha irmã, porque temos ainda outra criança que requer cuidados”, conta. As mudanças impostas pela pandemia, a mais significativa foi a escolar, além disso, Naiane também observou o aumento de movimentos repetitivos, também chamados de estereotipias.
Ao se deparar com o diagnóstico de autismo em seu filho, o magistrado do TJRO Flávio Henrique de Mello, titular da 2ª Vara de Execução Penal da Comarca de Porto Velho, envolveu-se com a temática de tal forma que se tornou uma voz importante na luta pelos direitos dessa população, dentro e fora da instituição. Foi determinante sua batalha pela aprovação recente de uma resolução que institui benefícios para servidores, servidoras, magistrados e magistradas que são responsáveis pelos cuidados de pessoas com deficiência ou doença grave. Dentre as conquistas está a redução da carga horária de trabalho sem prejuízo na remuneração. “A aprovação representa um marco histórico na conquista de direitos fundamentais das pessoas com deficiência, o que demonstra o compromisso institucional do TJRO para garantir a acessibilidade”, aponta. Fora da instituição, o juiz promove palestras que ajudam a difundir os direitos de pessoas com TEA (Transtorno do Espectro do Autismo)
Muitos estudos que envolvem o autismo, seja para detectar causas ou descobrir a cura, estão em andamento no mundo, sem que nenhum tenha obtido resultados conclusivos. Por isso, muitos tratamentos são oferecidos de forma experimental e acompanhados por profissionais capacitados. Medicamentos à base de canabidiol, terapia com animais e outras alternativas se tornaram comuns. Mas, apesar de produzir resultados positivos na vida dessas pessoas que precisam de resultados a curto prazo para ter uma vida digna, não está ao alcance de todos, que muitas vezes precisam recorrer ao Judiciário para ter suas demandas atendidas. Enquanto não há respostas da ciência sobre a questão, cabe a sociedade a união de esforços para combater a discriminação e das instituições para garantir o respeito aos direitos já conquistados em lei.