Por Estadão
Publicada em 22/06/2021 às 10h29
Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio enfrentaram uma avalanche de inconvenientes desde o adiamento histórico do evento em 2020 devido à pandemia de covid-19, mas a apenas um mês das competições a linha de chegada finalmente está à vista. O percurso não foi como os anteriores, com uma lista gigantesca de complicações, que quase provocaram o primeiro cancelamento de uma Olimpíada em tempos de paz.
A apenas quatro semanas da cerimônia de abertura, em 23 de julho, e mesmo com o ambiente longe da festa habitual que precede os Jogos, o comitê organizador tem motivos para celebrar. Os atletas, em todo o mundo, estão buscando as últimas vagas, as primeiras equipes chegaram ao Japão, assim como dirigentes do movimento olímpico e alguns jornalistas estrangeiros.
Pesquisas apontam que a oposição da opinião pública japonesa aos Jogos pode diminuir com a aproximação do evento. "Estamos em plena fase de realização", comemorou na segunda-feira Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI). "Os atletas começam a chegar a Tóquio, prontos para tornar seus sonhos realidade".
A luta foi árdua desde a decisão histórica, em março de 2020, de adiar os Jogos por um ano, quando a dimensão da pandemia começava a ser percebida no mundo.
Naquele momento existia a esperança de que a crise de saúde terminaria antes da cerimônia de abertura. Os Jogos Olímpicos seriam "a prova da vitória da humanidade sobre o vírus", chegaram a afirmar as autoridades japonesas.
Um inverno brutal e o surgimento de variantes acabaram com o tom positivo, alimentando a oposição crescente aos Jogos no Japão.
Sem gritos e abraços
O comitê organizador e os dirigentes olímpicos decidiram prosseguir com os preparativos: adiaram os eventos de classificação e se esforçaram para redigir as regras anticovid que, afirmam, devem garantir a segurança do evento.
Mas as autoridades se viram obrigadas a anunciar em março que os Jogos de Tóquio seriam os primeiros da história a proibir a presença de torcedores procedentes do exterior. A presidente do comitê Tóquio-2020, Seiko Hashimoto, considerou a decisão "muito decepcionante, mas inevitável".
Na segunda-feira, a organização estabeleceu um limite de 10.000 pessoas por local de competição para o público residente no Japão, mas alertaram que as competições podem ser disputadas com as portas fechadas, caso as infecções aumentem durante os Jogos.
Tóquio-2020 será um evento único. Os gritos estão proibidos, mas os aplausos autorizados, e os 11.000 atletas não poderão se abraçar, ao mesmo tempo que deverão usar máscara o tempo todo, exceto nas refeições ou durante a competição.
Eles só poderão fazer deslocamentos entre a Vila Olímpica e os locais de treinamento ou competição. As sanções em caso de violação das regras vão de uma simples advertência verbal até a exclusão dos Jogos, passando por eventuais multas.
Oposição aos Jogos em queda
De acordo com o COI, mais de 80% das pessoas na Vila Olímpica serão vacinadas, mas os atletas deverão passar por testes diários.
Um sinal dos desafios durante o evento aconteceu no sábado, quando um treinador de Uganda testou positivo ao desembarcar no Japão: a delegação havia sido vacinada e testada negativo antes da viagem.
O adiamento dos Jogos e as medidas antivírus provocaram um custo adicional de 2,735 bilhões de dólares, elevando o orçamento oficial a 15,46 bilhões de dólares.
A situação de saúde e os custos exorbitantes contribuíram para alimentar a oposição aos Jogos. As pesquisas realizadas a partir de dezembro mostraram que a maioria dos japoneses desejava o cancelamento ou adiamento.
Nas últimas semanas, no entanto, alguns sinais mostram que a opinião está mudando: pesquisas apontam que quase um terço dos entrevistados são favoráveis à celebração dos Jogos, contra apenas 14% há um mês.
O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, que deve enfrentar sua primeira eleição pouco depois dos Jogos, espera um evento de sucesso para alavancar sua carreira política.
O governo foi criticado por sua gestão da crise de saúde, embora o Japão tenha registrado uma epidemia menos grave que a maioria dos países, com 14.500 mortes entre 125 milhões de habitantes.
A campanha de vacinação começou lentamente no arquipélago, mas o ritmo acelera, com 7% da população já completamente imunizada.