Por Marina Espíndola/Secom
Publicada em 23/06/2021 às 09h41
Vale do Anari comemora na terça-feira (22), 27 anos da criação do município, por meio da Lei Nº 572, de 22 de junho de 1994, na época assinada pelo atual governador, Oswaldo Piana Filho. A área acabou desmembrada do Município de Machadinho d’Oeste.
Em 1989, um grupo de colonizadores por meio de uma associação, denominada Vale do Anari, começaram ações importantes afim de lutarem pela resolução dos diversos problemas existentes na região.
O nome Vale do Anari é homenagem ao rio Anari, que banha a região. Esse rio, afluente da margem esquerda do rio Ji-Paraná ou Machado, foi conhecido pelos primeiros colonizadores pelo nome de Uaneri.
PROJETO 70
Fábio Alves Pereira, de 40 anos de idade, é o caçula dos nove filhos do casal, Albino Alves Pereira e Ana Alves de Almeida. A família chegou a Rondônia na década de 80, em cima de um Pau-de-Arara. Na época, Fábio tinha apenas dois anos de idade. Os migrantes da cidade de Belo Horizonte (Minas Gerais), desembarcaram em Rondônia para fazer parte do início da colonização, especificamente na cidade de Jaru.
“Meu pai começou a vida aqui em Rondônia fazendo trabalhos no ramo da construção, calçamento da BR-364, e quando mudamos para a área rural de Ouro Preto do Oeste, onde meu pai trabalhou no ramo da agricultura, abriu-se então inscrições no Incra para ganhar terras rurais, no então projeto 70, que fica cerca de 90 km de Jaru, onde hoje é o município de Vale do Anari”, diz Fábio.
Para ter acesso ao sítio pela primeira vez, Fábio conta que seu pai precisou enfrentar uma longa empreitada em meio a floresta. Afinal suas novas terras recebidas pelo Incra faziam parte da linha 74, que ainda não eram configuradas como Vale do Anari, e inexistente sequer acessos que interligasse Jaru até o projeto.
“A primeira vez que ele foi visitar as terras, a estrada estava por volta do travessão 4, então ele não pode ir e acabou voltando. Somente na segunda vez, com muita dificuldade, que ele viu nossas terras pela primeira vez. Porque a estrada só era aberta até o rio Vale do Anari, 20 km antes de chegar na cidade. Então, do rio até o sítio, são aproximadamente 30 km, e ele caminhou dentro da mata para poder ter o primeiro acesso ao sítio”.
O mesmo empenho aconteceu por parte de outras dezenas de famílias, e foi assim que parcialmente a estrada ganhou algumas melhorias. Os ônibus iniciaram rotas que seu Albino insistentemente fazia na busca do sonho de desbravar aquelas terras para oferecer melhores condições à família. “Ele ia de ônibus até o projeto 70, e depois seguia a pé para o sítio, 10 km à frente, entre estrada e ”picada”, de vez em quando ainda sim, dentro da mata”, conta Fábio.
Em 1983, iniciou-se a limpeza das terras da família e as matas fechadas, deram espaço a plantação de lavouras como milho, cacau e café. Cinco anos depois, Fábio, seus oito irmãos e os pais mudaram-se para o local. “Nossa mudança para lá foi muito difícil, pois ainda era precário o acesso ao sítio. Tivemos que levar móveis e objetos, nas costas, em cima de cavalos”.
Os atoleiros dificultaram o desbravamento do município, que por um tempo foi pertencente ao recém criado na época município de Machadinho do Oeste. Aos poucos, com a evolução no povoado do projeto 70, e o aumento da população, ele se desmembrou de Machadinho. Em junho de 1994, tornou-se então emancipado e passou a se chamar Vale do Anari.
“Eu cheguei a estudar nas escolinhas rurais de Vale do Anari, às vezes ficamos muitos dias sem aulas devido a dificuldade de acesso, quase não tínhamos materiais e nem recursos pedagógicos como existe hoje, então foi muito difícil, mas o principal era o material humano e a inteligência. Mesmo meus pais sendo analfabetos, eles sempre nos incentivaram a estudar. Mesmo diante de todas as dificuldades que tínhamos no campo, como ter que andar muitos quilômetros a pé para poder chegar na escola, ainda sim, conseguimos estudar”.
Segundo Fábio, as escolas rurais naquela época lecionavam apenas até a 4ª série, nas demais séries eram necessários que os alunos se deslocassem para as cidades vizinhas. “Meus irmãos e eu, seguíamos a pé ou de bicicleta no percurso de 10km, muitas vezes debaixo de chuva, ou sol muito forte, e até mesmo muita poeira, tudo isso para ter acesso a educação”.
“Eu constituí família aqui, há 20 anos sou casado, e tenho dois filhos, benção que Deus me deu. E vivemos aqui na linha 74 de Vale do Anari, meus pais continuam residindo aqui, e tenho orgulho de dizer que eles foram os desbravadores deste município, e eu como filho e meus irmão, também fazemos parte da história de Vale do Anari”, finaliza Fábio.