Por Vinicius Canova
Publicada em 15/07/2021 às 16h05
Em colaboração para o Rondônia Dinâmica
Porto Velho, RO – Os casos de violência doméstica alcançam dimensões endêmicas Brasil afora e em Rondônia a questão está muito longe de ser diferente.
Em 2020, as Terras de Rondon registraram 9,8 mil ocorrências; no Brasil todo, com período de abrangência idêntico, 105,8 mil denúncias do mesmo espectro foram formalizadas.
Os dados regionais são da Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec/RO) e as informações de ordem nacional foram retiradas diretamente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Adendo
Ainda vale relembrar reportagem da CNN Brasil com base veiculada pela Rede de Observatório da Segurança, onde, chegou-se à conclusão de que a cada um dos 365 dias do ano passado uma média de cinco mulheres foram assassinadas em todo o Brasil.
"En passant"
A pauta regressa em profusão ao noticiário nacional – e preste atenção, ela irá embora na mesma velocidade –, porque o último fato está relacionado a um “artista”, o tal "DJ Meia-Boca", cujo nome não mencionarei para não dar ainda mais projeção ao abjeto, independentemente de ser ou não crítica aos crimes perpetrados através de arroubos do celerado.
Mais que o "DJ Meia-Boca"
A coisa toda não tem nada a ver com ele. Ou pelo menos não tem a ver só com ele. Porque a repercussão em si abalroou sua carreira medíocre, ocasionou a prisão de maneira rápida e objetiva (situação fora do hábito) e o julgamento popular em si se encarrega do restante.
É o fim de uma pessoa que não deveria nem ter começado.
Entretanto, com a satisfação da plateia depois de a carne ser jogada aos leões, isto deixando claro que eu particularmente me regozijo em suas agruras jurídicas e profissionais, desligam-se os holofotes após 15 minutos de luzes incessantes em cima da história.
E depois dos 15 minutos?
E a vida segue para o público com o palco desmontado, embora nos bastidores da realidade trágica tupiniquim os números eviscerem massacre silencioso das mulheres que você conhece. Talvez sua mãe, de repente uma tia, avó, madrinha, sobrinha, prima, filha, enteada, amiga, colega de trabalho, quem sabe? Nem sempre é algo físico. Em muitos casos há situações acintosas de ofensivas psicoemocionais, isto quando não paralelas às bordoadas que exortam da covardia do homem frustrado e decadente.
Urubus
É difícil ter consciência quando se fecha os olhos à realidade, ou, quando provocado por ela, os contorce diante das declarações de autoridades, campanhas publicitárias e pronunciamento das vítimas.
É acima de tudo uma autocrítica. Vale para mim, é óbvio. E vale para você também como proposta de reflexão.
Esse interesse mórbido e inevitável pela violência humana não poderia, em tese, se sobrepor, jamais, às releituras que devemos fazer de nós mesmos periodicamente.
É aquela coisa: o urubu só quer saber de carniça, por isso ronda, espreita.
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O magnetismo que representa o encontro entre a nossa curiosidade remota com atos atrozes perpetrados por semelhantes está, por exemplo, rendendo audiência no Instagram ao perverso inominável. No fim, é dinheiro. É projeção. É engajamento, mesmo que a vitrine concedida seja despretensiosa.
E sem querer ou não, quem eleva a imagem da besta com ela se deita em cumplicidade e deleite.
Pense nisso.