Por AFP
Publicada em 28/07/2021 às 10h59
O Afeganistão se transformaria em um "Estado pária" se os talibãs tomassem o poder pela força e "cometessem atrocidades contra seu povo", advertiu nesta quarta-feira (28) em Nova Délhi o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Ele considerou "profundamente preocupantes" as informações de que os insurgentes cometeram atrocidades durante sua ofensiva geral nas regiões em que assumiram o controle.
A conquista relâmpago por parte dos talibãs de amplos territórios em menos de três meses durante uma ofensiva geral preocupa a Índia e os países vizinhos do Afeganistão, no momento em que a retirada definitiva das forças internacionais - que estão há 20 anos no território afegão - se aproxima do fim.
"Um Afeganistão que não respeitasse os direitos de seu povo, um Afeganistão que cometesse atrocidades contra seu próprio povo se transformaria em um Estado pária", declarou Antony Blinken.
"Os talibãs afirmam que desejam reconhecimento internacional, apoio internacional para o Afeganistão, provavelmente desejam que seus dirigentes possam viajar livremente pelo mundo, a suspensão das sanções, etc. Pois bem, tomar o poder pela força e violar os direitos de seu povo não é o modo correto de conseguir", afirmou.
- Não interferência -
Na China, os líderes do Talibã garantiram a Pequim que o grupo não permitirá que o Afeganistão seja usado como base para conspirar contra outro país.
Uma delegação que inclui o co-fundador do Talibã, o mulá Abdul Ghani Baradar, está na China para discussões, enquanto os insurgentes continuam sua ofensiva no Afeganistão, incluindo em áreas ao longo da fronteira comum com a China.
Esta fronteira tem apenas 76 quilômetros de extensão e está em grande altitude, sem cruzamento de estradas, mas Pequim teme que o Afeganistão possa ser usado como refúgio para separatistas uigures de Xinjiang.
O porta-voz talibã Mohammad Naeem disse à AFP que essas preocupações eram infundadas.
"O Emirado Islâmico garantiu à China que o solo do Afeganistão não seria usado contra a segurança de nenhum país. Eles [a China] prometeram não interferir nos assuntos do Afeganistão, mas ajudar a resolver problemas e trazer a paz", declarou.
Pequim confirmou o tom das discussões, lideradas do lado chinês pelo ministro das Relações Exteriores, Wang Yi.
Analistas acreditam que a China, cuja postura em política externa é de não ingerência nos assuntos de outros países, teme o extremismo religioso do Talibã, dada sua proximidade com a província de maioria muçulmana de Xinjiang.
A reunião de hoje em Pequim dá legitimidade a um grupo insurgente que anseia por reconhecimento internacional para acompanhar seu avanço militar.
"Wang Yi apontou que o Talibã afegão é uma força militar e política crucial no Afeganistão", afirmou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian.
"A China tem aderido consistentemente à não interferência nos assuntos internos do Afeganistão (...) O Afeganistão pertence ao povo afegão", disse ele, em contraste com o "fracasso da política dos EUA" naquele país.
- "Invasão sem precedentes" -
Em Cabul, o presidente afegão Ashraf Ghani instou a comunidade internacional a "revisar a narrativa da vontade do Talibã e de seus apoiadores de adotar uma solução política".
"Em termos de escala, alcance e tempo, estamos diante de uma invasão sem precedentes nos últimos 30 anos", alertou em discurso nesta quarta-feira.
"Não é o Talibã do século XX (...) mas a manifestação do nexo entre redes terroristas transnacionais e organizações criminosas transnacionais", acrescentou.
O Talibã intensificou sua atividade diplomática nos últimos meses para buscar reconhecimento global caso retorne ao poder.
Desde maio, quando as forças estrangeiras lideradas pelos EUA começaram a última etapa da retirada que deve ser concluída no mês que vem, os insurgentes fizeram progressos significativos no terreno.
A ofensiva permitiu que assumisse o controle de dezenas de distritos e pontos de fronteira.