Por Catraca Livre
Publicada em 21/07/2021 às 15h39
Padre Fábio de Melo, relembra a amizade que teve com a travesti Luana Muniz, com quem se encontrou pela primeira vez na quadra da Mangueira, em 2015. Foi a partir de um pedido de foto feito por ela que nasceu uma amizade que transformaria para sempre o padre.
“Foi um ser humano que marcou minha vida. Eu tenho no meu celular algumas conversas tão bonitas onde nós falávamos da nossa vida, dos nossos pontos de vista tão diferentes. Mas nós convergíamos para um único ponto: o amor ao ser humano”, diz o padre, em depoimento inédito ao documentário “Filha da Lua”, que chega aos cinemas no dia 12 de agosto.
Dois anos depois do primeiro encontro, a amizade que cultivavam foi interrompida. No entanto, ele conseguiu conhecer o trabalho social feito por ela na Lapa, Centro do Rio, antes de sua partida. Segundo ele, Luana foi importante no processo de desconstrução de seus próprios preconceitos.
“Se um dia nós aprendêssemos que, apesar de termos vidas diferentes, nós temos sentimentos semelhantes e sofremos as mesmas dores. Eu me tornei parceiro da obra dela. Ficamos amigos, de nos falarmos semanalmente. Não consigo apagar as mensagens de voz dela até hoje”, revela Fábio de Melo no documentário, vestindo uma camisa de Super-Homem.
Na época da fotografia, que virou notícia em todo o país, Fábio de Melo descreveu como “uma experiência surpreendente” o encontro com Luana Muniz. Um pouco depois do episódio, o padre fez uma relato emocionante durante uma pregação na Canção Nova, em São Paulo, assumindo o desconforto que sentiu sobre o pedido da travesti, mas que, logo na sequência, se comoveu ao ter conhecimento de sua história e do trabalho social realizado por ela.
“Como que eu vou reagir?’(pausa). Independente de qualquer julgamento, estou confessando a hipocrisia do meu coração naquela hora. Muitas pessoas começaram a se encorajar para tirar foto comigo. E ele (o travesti) lá do fundo olhando. Quando, de repente, eu só vi a sombra dele na minha direção, e o meu preconceito, o medo de me expor, tudo vindo à tona. Que coisa horrorosa isso em nós… Como se eu fosse melhor. Isso é mesquinho, é vergonhoso o que eu estou dizendo pra vocês”, disse Fábio de Melo na ocasião.
O documentário “Filha da Lua”, dirigido por Rian Córdova e Leonardo Menezes, possui depoimento de outros nomes conhecidos na mídia, como o da cantora e amiga Alcione, que ajudam a traçar a história de Luana Muniz, que chegou a ficar conhecida nacionalmente, antes do testemunho do padre, ao aparecer em uma reportagem do “Profissão Repórter” sobre prostituição. Nas cenas, ela aparece agredindo um suposto cliente e soltando a frase que se transformou em um bordão conhecido nacionalmente: “Tá achando que travesti é bagunça?”.