Por AFP
Publicada em 08/07/2021 às 15h48
Na antiga vila síria de Maaloula, trabalhadores armados com ancinhos e carrinhos de mão ficam a postos em uma estreita falha rochosa de Mar Takla para se preparar para a chegada de peregrinos cristãos e turistas de verão após anos de guerra.
Situada nas íngremes encostas das montanhas rochosas de Qalamun, cerca de 60 quilômetros ao norte de Damasco, Maaloula é invadida todos os anos por milhares de visitantes, que vêm passear por suas vielas para ouvir os habitantes conversarem em aramaico, a língua que era falada no tempo de Jesus Cristo.
Além das igrejas e mosteiros, a cidade é famosa por seu labirinto de cavernas troglodíticas que serviram de refúgio para fiéis que fugiam da perseguição durante os primeiros séculos do cristianismo.
Perto do convento ortodoxo grego de Mar Takla, a falha de Santa Tecla teria salvado a jovem, convertida no ano 67 e perseguida pelos soldados romanos.
Segundo a lenda, ao chegar a Maaloula, a montanha teria se aberto para oferecer-lhe abrigo.
Outros trabalhadores nivelam o solo e cascalho, levantando também grandes pedras que provavelmente foram desalojadas das alturas.
En algunos lugares as paredes quase se tocam, deixando apenas filtrar os raios de sol.
Os moradores esperam concluir essas obras de manutenção antes da festa da Assunção da Virgem aos céus, em 15 de agosto, que atrai centenas de visitantes.
Antes do conflito iniciado em 2011, turistas ocidentais e fiéis - vindos principalmente do Líbano - passeavam aos milhares neste corredor montanhoso que serpenteava cerca de 500 metros antes de terminar no convento de Mar Takla e no mosteiro católico grego de São Sérgio e São Baco.
Maaloula, que significa "entrada" em aramaico, é o mais famoso dos três povoados ao redor de Damasco onde essa língua antiga ainda é falada.
"O desfiladeiro é um dos locais mais importantes de Maaloula", conta o prefeito do povoado, Ibrahim al Chaer, reconhecendo que o local sofreu "negligência e intempérie", mas também carrega os estigmas dos combates, bombardeios e incêndios.
Os combates eclodiram no setor em 2013. Rebeldes e extremistas ligados à Al Qaeda tomaram a cidade, sequestrando 13 freiras, libertadas três meses depois. O poder de Damasco finalmente reconquistou a área em abril de 2014.
Embora a destruição em Maaloula não tenha sido tão grande quanto em outras partes da Síria, os locais religiosos não foram poupados. Igrejas e mosteiros de pedra foram saqueados e danificados por fogo, com ícones destruídos e outros roubados.
Esses locais já foram restaurados. Mas dos mais de 6.000 habitantes que Maaloula já teve, apenas 2.000 retornaram ao povoado após terem fugido. O resto se estabeleceu em Damasco ou em seus arredores, ou então foram para o exterior.