Por AFP
Publicada em 09/08/2021 às 15h12
Um ano após sua reeleição, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, continua sendo criticado pela comunidade internacional, não apenas pelo resultado do pleito, contestado por vários países, mas também pela repressão em vigor desde então. Os Estados Unidos anunciaram novas sanções contra seu regime. O líder bielorrusso afirma estar sendo perseguido pelo “Ocidente” e pede que negociações sejam abertas.
Em um encontro nesta segunda-feira (9) com a imprensa e com autoridades de seu gabinete, apelidado de "grande debate", Alexander Lukashenko mais uma vez proclamou sua vitória em uma eleição "totalmente transparente" contra uma oposição que preparava um "golpe". "O ano não foi fácil", disse ele, referindo-se aos protestos que, segundo ele, representavam "uma ameaça à unidade nacional".
Lukashenko foi reeleito em 9 de agosto de 2020 com mais de 80% dos votos. O resultado foi contestado e gerou um movimento de protesto inédito na ex-república soviética, dirigida por ele desde 1994. As manifestações foram contidas com violência pelas forças do governo e, desde então, a repressão visando os opositores só aumentou.
A comunidade internacional tenta pressionar o regime bielorrusso por meio de sanções. Os Estados Unidos informaram que vão impor novas medidas de retaliação visando o governo de Lukashenko. O presidente norte-americano Joe Biden assinará uma ordem executiva dirigida ao líder bielorrusso por um contínuo "ataque contra as aspirações democráticas e os direitos humanos do povo bielorrusso, a repressão transnacional e os abusos", informou um funcionário da Casa Branca à AFP.
A mesma fonte, que fala de eleições “fraudulentas”, disse que o Tesouro americano também anunciará sanções contra empresas, personalidades e organizações de Belarus. "Com as ações de hoje, o presidente Biden está cumprindo sua promessa de responsabilizar o governo bielorrusso pelos seus abusos", enfatizou.
Comitê Olímpico de Belarus na mira
Uma das entidades visadas por Washington é o Comitê Olímpico de Belarus. Os Estados Unidos acusam o comitê de facilitar a lavagem de dinheiro, a evasão de sanções e de contornar as proibições de visto.
A entidade esportiva está no centro das atenções desde a tentativa de repatriamento forçado de uma atleta bielorrussa que participava dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A velocista Krystsina Tsimanouskaya chamou atenção do mundo ao pedir proteção para não embarcar em um avião de volta para casa, alegando que temia pela sua vida caso retornasse para Belarus. A jovem, uma das muitas figuras esportivas que em agosto de 2020 criticaram publicamente a violência contra os manifestantes nos protestos no país ex-soviético após a eleição presidencial, recebeu asilo humanitário na Polônia.
“Ele só entende o linguajar das sanções”
Refugiada na Lituânia, a opositora Svetlana Tikanovskaya defendeu a imposição de sanções contra o regime de Belarus. “Mais de 36 mil bielorrussos foram presos. Hoje 610 pessoas são reconhecidas como presos políticos e mais de mil estão atrás das grades por razões políticas”, disse ela em Vilnius. “Até agora o regime não está disposto a mudar, e acredito que um novo pacote de sanções precise ser imposto. Esse é o único linguajar que o governo bielorrusso entende”, completou.
Já Lukashenko acusa seus detratores de serem cúmplices do Ocidente, que desejaria derrubá-lo para enfraquecer a Rússia e seu presidente Vladimir Putin, principal aliado de Minsk. "Nunca nos ajoelharemos", exclamou o presidente de Belarus, as sanções europeias e americanas. Ele disse ainda que os países ocidentais deveriam se colocar em volta de uma mesa de negociações, e não multiplicar as sanções contra seu país.
Para marcar o primeiro aniversário dos protestos contra a reeleição, os bielorrussos manifestam no exterior, especialmente na Polônia e na Ucrânia, destino de exílio de muitos refugiados.