Por Professor Nazareno
Publicada em 18/08/2021 às 09h08
Depois de umas doses de cachaça da pior qualidade que há, eis que andando pela Avenida Jorge Teixeira em Porto Velho, a podre e imunda capital dos rondonienses, logo me deparo com uma paisagem encantadora daquelas de tirar o fôlego. Vejo muitas flores cor-de-rosa e de outras tonalidades espalhadas pelo meio da rua. O tapete colorido deslumbra a quem passa por ali. Não contive as lágrimas e de imediato me lembrei de Viena, a apaixonante capital da Áustria, que por anos a fio foi considerada a melhor cidade do mundo para se viver. A capital do antigo Império austro-húngaro, com quase dois milhões de habitantes, é um deslumbre só. Seus jardins floridos, suas verdes e magníficas ruas cheias de flores dão a impressão de que realmente estamos em um paraíso de tanta beleza. O real Palácio de Schönbrunn com suas florestas é pura magia.
Há dois anos, tive o raro privilégio de conhecer essa bela cidade e seus caminhos verdes e floridos. Schönbrunn é realmente de tirar o fôlego de qualquer um. A linha verde do metrô (U-4) tem duas paradas bem próximas a este paraíso. Limpeza, conforto e pontualidade são as características mais presentes que se veem nos transportes urbanos da capital austríaca. Mobilidade urbana e presteza aos cidadãos são uma constante. Em qualquer hora do dia ou da noite pode-se visitar o palácio e suas florestas, árvores e jardins sem medo de assalto ou de outra inconveniência. O inusitado e lindo lugar não tem nenhum igarapé por perto, mas tem várias fontes de águas potáveis onde os turistas matam a sede. O Café Gloriette, restaurante sofisticado situado numa colina nos fundos do palácio, oferece todo tipo de bebidas, lindas vistas e lanches a preços bem em conta.
O cheiro das flores em Viena fascina com tantas fragrâncias e variedades. Já em Porto Velho não tem Café Gloriette nem Palácio com flores. Alguém teve a infeliz ideia de plantar alguns ipês-rosa em meio a esgotos podres e fedorentos. Não deu outra: misturou o belo ao imundo. Uma versão botânica e grotesca de “A bela e a fera”. Mesmo assim, o ambiente surreal magnetiza as pessoas daqui que nunca foram a Viena nem à outra encantadora e florida cidade da Europa. E mesmo com a cabeça cheia de álcool, no meio da poeira fétida e sob um sol desgraçado não há como não sentir o fedor do Igarapé dos Tanques, que insiste em margear aquele “jardim fora de espaço e de tempo” na capital karipuna. Enquanto em Viena bebe-se normalmente a água das fontes, em Porto Velho quem beber daquela água não passa cinco minutos vivo. É ácido puro!
Esse mesmo igarapé imundo e sujo margeia o que chamam de rodoviária de Porto Velho. Suas águas pútridas, apodrecidas e pestilentas além da catinga transmitem doenças, fungos, bactérias e toda sorte de micróbios a quem tem o infeliz prazer de morar às suas margens. Porto Velho nunca será Viena. O prefeito e a SEMA não deixam, pois as raras árvores que há são arrancadas pela raiz como fizeram na Avenida Tiradentes. Diferente da capital austríaca, a fumaça das queimadas neste verão cinzento e quente dá o tom lúgubre à cidade. As flores dos coloridos ipês-rosa são bonitas de se ver, mas parecem que estão no lugar errado. Juro que, por estar bêbado, percebi Viena naquela linda e indescritível aquarela florida, mas quando olhei para o chão vi Porto Velho mesmo, com os seus esgotos fedidos, nojentos e a céu aberto. E a cachaça me fez sonhar ainda mais. Porém, tive medo de assalto e das doenças que podia pegar. Caí fora!
*Foi Professor em Porto Velho.