Por Claudia
Publicada em 30/08/2021 às 15h38
O Talibã anunciou no último domingo (29) que vai autorizar a presença de mulheres nas universidades do Afeganistão, desde que estudem separadas dos homens. A declaração vai de acordo com a promessa anterior do grupo islâmico radical, que alegou que não proibiria meninas e mulheres de frequentarem a escola.
De volta ao poder após 20 anos, o grupo fundamentalista islâmico proibiu durante o seu último regime que pessoas do sexo feminino frequentassem instituições de ensino, fazendo com que houvesse um temor por parte das mulheres de que esta decisão regressista fosse tomada novamente.
"O povo do Afeganistão continuará tendo ensino superior de acordo com as regras da sharia [lei islâmica] que proíbe classes mistas", afirmou Abdul Baqi Haqqani, ministro do Ensino Superior do Talibã durante uma assembleia com membros do alto escalão do grupo.
Como esclarecimento da decisão, o ministro disse que o grupo fundamentalista islâmico exige que seja criado "um programa educacional razoável que seja consistente com nossos valores islâmicos, nacionais e históricos e que, por outro lado, seja capaz de competir com outros países".
Apesar de ter sido anunciada pelo ministro do Ensino Superior, a diretriz também se enquadra a escolas primárias e secundárias, o que significa que meninos e meninas também devem ser segregados.
Desde que se pronunciou pela primeira vez após a tomada de poder, o grupo tem disseminado um discurso para tentar convencer o país e o mundo de que não repetirá no governo perverso que impôs de 1996 a 2001. A permissão é só mais uma das resoluções que se enquadram nesse posicionamento cordial e, ainda que promissora, é vista com ceticismo, principalmente pelas afegãs.
Reconhecidos por interpretar radicalmente a lei islâmica, acredita-se que as decisões que até agora tem sido permissivas para com as mulheres, na verdade escondem represálias, que pretendem prevenir sistematicamente a participação das mulheres na sociedade.
Ainda que as sentenças sejam diferentes das tomadas há duas décadas, por via de regra as mulheres são relegadas a papéis subalternos na vida pública e elevadas à condição de "rainhas do lar", o que em algum momento há de prevalecer sobre todas as atribuições até então concebidas.