Por RFI
Publicada em 11/09/2021 às 09h21
A população do Líbano recebe com descrença e ceticismo neste sábado (11) o novo governo, anunciado na sexta-feira (10), após 13 meses de incerteza no país, mergulhado numa crise econômica sem precedentes.
Os jornais libaneses afirmam que o novo gabinete, liderado por Najib Mikati, é uma cópia dos anteriores, que fracassaram em fazer as mudanças necessárias. De acordo com a imprensa libanesa, o governo que chega ao poder representa os interesses do sistema que levou ao agravamento da crise. Washington deu as boas-vindas à formação do novo gabinete, pedindo reformas "urgentes". O novo primeiro-ministro terá a tarefa ingrata de recuperar a economia país, atolado em uma crise social.
O político e empresário sunita Najib Mikati possui uma das maiores fortunas do país e já foi primeiro-ministro duas vezes. A nova equipe é composta por 24 ministros e foi criada após intermináveis negociações políticas entre os partidos no poder, largamente desacreditados pela população.
Desconfiança
Os receios unânimes, publicados nos pelos meios de comunicação, nas redes sociais e por alguns especialistas, referem-se, em particular, à capacidade do novo governo de reverter os problemas econômicos e de fazer as reformas esperadas pelos libaneses. “Um governo de confiança (quase) impossível", escreveu em sua manchete o diário de língua árabe Al-Akhbar, próximo ao partido xiita Hezbollah.
Muitos libaneses questionam também se as mudanças poderão vir de um grupo político escolhido pelos "barões", oriundos de setores que dirigem o país há décadas e cujas políticas e suspeitas de corrupção estão no centro da origem do colapso do país.
“Governo (...) de esterilidade política e corrupção consensual”, lamenta um usuário do Facebook, fazendo alusão à gigantesca explosão de agosto de 2020 no porto de Beirute, devido ao armazenamento de grandes quantidades de nitrato de amônio sem os cuidados necessários. A explosão que deixou mais de 200 mortos, milhares de feridos e devastou bairros inteiros da capital libanesa foi, em grande parte, atribuída ao descuido da classe política dominante no país.
Pior crise desde 1850
Em sua primeira página, o diário francófono L'Orient-Le Jour destaca a tarefa “hercúlea” do governo. A crise econômica que o país atravessa desde o verão de 2019 continua piorando e é considerada pelo Banco Mundial como uma das piores do mundo, desde 1850.
Com a inflação galopante e demissões em massa, 78% da população libanesa vivem abaixo da linha da pobreza, de acordo com a ONU.
A desvalorização da moeda local, restrições bancárias sem precedentes, levantamento gradual de subsídios, escassez de combustível e de remédios são algumas das urgências na pauta do novo premiê. O país também mergulhou na escuridão por vários meses, com cortes de energia que chegaram a 22 horas por dia.
Se a chegada ao governo de personalidades como Firas Abiad, diretor do hospital governamental Rafic Hariri e principal instituição na luta contra a Covid-19, foi saudada por alguns, a dúvida permanece.
“Quando um país está entre os três primeiros em termos de gravidade de uma crise econômica na história contemporânea mundial, não nomeamos um Ministro do Turismo, nem um Ministro da Juventude e Desportos (...), mas doze especialistas econômicos e financeiros independentes para trabalhar 24 horas por dia na (saída) crise ", reagiu a ativista e especialista em políticas públicas, Sara el-Yafi nas redes sociais.
Entre os desafios pela frente está a conclusão de um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), cujas negociações estão suspensas desde julho de 2020. Para a comunidade internacional, esse é um passo essencial para desbloquear outra ajuda substancial.