Por RFI
Publicada em 15/09/2021 às 15h22
Após semanas de boatos, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, decidiu modificar o governo nesta quarta-feira (15) para formar uma "equipe unida" e enfrentar os desafios depois de um ano e meio de pandemia e em plena queda de popularidade. Além da crise sanitário, o premiê conservador enfrenta críticas sobre a saída do Afeganistão, além do impacto do Brexit, que dificulta cada vez mais a chegada de produtos aos supermercados do país.
A reforma conta com o remanejamento de nomes de peso no governo. Entre os substituídos está o chefe da diplomacia Dominic Raab, cujo cargo será ocupado agora pela ministra do Comércio Internacional, Liz Truss, de 46 anos, encarregada no Brexit de negociar os acordos de livre comércio prometidos por Johnson.
Raab, um liberal de 47 anos, foi muito criticado pela sua falta de ação na crise afegã, ao permanecer de férias em Creta enquanto Cabul caía nas mãos do Talibã em meados de agosto. Depois, pareceu culpar o exército por alguns dos erros cometidos durante as evacuações. No entanto, não vai deixar o Executivo, já que foi nomeado ministro da Justiça e vice-primeiro-ministro.
O ministro da Educação, Gavin Williamson, foi o primeiro a confirmar no Twitter a sua saída, amplamente esperada após sua gestão do fechamentos das escolas durante a pandemia e o posterior fiasco nos exames nas universidades. Pouco depois, o ministro da Justiça, Robert Buckland, também anunciou que deixaria o governo.
Embora pareça estar na corda bamba por seu fracasso na redução das chegadas de imigrantes em situação irregular através do Canal da Mancha, a ministra do Interior, Priti Pratel, conservou seu cargo. Os ministros das Finanças, Rishi Sunak, e da Defesa, Ben Wallace, também foram mantidos em suas respectivas pastas.
Já Michael Gove, amigo do primeiro-ministro, responsável atualmente por coordenar a ação governamental, foi nomeado ministro da Habitação e Governos Locais, encarregado de concretizar a grande promessa eleitoral de reduzir as enormes disparidades entre Londres e o resto do país.
Essa remodelação busca "criar uma equipe forte e unida para reconstruir melhor após a pandemia", afirmou uma fonte de Downing Street.
Pagando o preço de reformas sociais
O anúncio acontece em um momento delicado para Johnson, de 57 anos, que venceu com ampla margem as eleições gerais de dezembro de 2019, quando prometeu concretizar o Brexit, votado em um referendo em 2016, mas adiado várias vezes desde então. Uma pesquisa de opinião recente realizada pelo instituto YouGov mostra uma queda de popularidade dos conservadores (33%), superados pela primeira vez desde o início do ano pelo Partido Trabalhista (35%).
O Executivo está pagando sobretudo por sua decisão de aumentar as contribuições à Previdência Social para socorrer o sistema público de saúde, afetado pela pandemia de Covid-19, e reformar o setor de assistência social. As medidas deixaram os impostos no maior nível desde a Segunda Guerra Mundial, rompendo a promessa eleitoral de Johnson de não elevar os tributos.
Na área da saúde, o governo britânico enfrenta uma situação também delicada, após suspender em julho a maioria das restrições contra a Covid-19, apesar da variante delta do coronavírus, que elevou o número de novos contágios a mais de 30.000 por dia.
A volta às aulas e a chegada do outono, no final de setembro, com sua leva de vírus sazonais, como a gripe, aumentam os temores de uma situação difícil nos hospitais de um dos países europeus mais castigados pela pandemia, com mais de 134.000 mortes.
O plano do governo para enfrentar o inverno, no final do ano, é baseado principalmente em uma campanha de vacinação de reforço contra Covid-19, e tentar a todo custo evitar novos confinamentos.