Por Zekatraca
Publicada em 27/09/2021 às 08h40
No último dia 13, durante a comemoração do aniversário de criação do jornal Diário da Amazônia, nos deparamos com o Ernesto Melo – O Poeta da Cidade entre os convidados especiais. Assim que a festa terminou procurei saber o motivo do convite especial e fui informado que atualmente, dona Maria Thereza mãe do Ernesto é a mais antiga assinante do jornal. Em conversa com o Editor Solano Ferreira fui convidado a voltar a publicar a coluna do Zekatraca em especial, as entrevistas de domingo. Durante a conversa sugeri que a volta fosse com a publicação da entrevista com a dona Maria Thereza, por se tratar a assinante mais antiga do jornal, ela completa 90 anos de idade no próximo dia 15 de outubro. Junto com o fotografo Roni Carvalho do Diário e Ana Santos (pelo blog do Zekatraca), batemos o papo com dona Thereza e seu filho Ernesto Melo na manhã da última quinta-feira 23, em sua residência.
ENTREVISTA
Zk – Por gentileza qual seu nome completo e cidade onde nasceu?
Thereza Melo – Meu nome é Maria Thereza de Oliveira Melo. Nasci no município de Santo Antônio (MT) no dia 15 de outubro de 1932/31. Aqui existe uma dúvida. Na realidade eu nasci em 1932 e minha mãe (Francisca de Souza Oliveira) morreu durante o parto e por isso, meu pai (Francisco Bento de Oliveira) deu a gente para uma família cuidar, erámos eu e mais duas irmãs: Maria da Conceição, Maria Luiza e eu Maria Thereza. Nesse momento o filho Ernesto Melo entra na conversa e explica:
Ernesto Melo – A história é a seguinte: Ele atarantado deu as filhas para os padrinhos criarem e ela foi morar com a família do seu Joaquim de Moraes.
Thereza Melo – Certa vez minha tia Durvalina chegou com meu pai e falou: “Chico Bento por que tu não te casas novamente. Onde elas moram só tem menino...” Então meu pai resolveu se casar com minha ‘mãe’ Idelvita. Tem muita mãe que não chega aos pés dela. Ela era irmã do Bernardo Simeão e nós voltamos a morar com ele.
Zk – E como foi que a senhora conheceu o Esmite?
Thereza Melo – Na Avenida 7 de Setembro existia um clube cujo nome era Yale e um dia, nos convidaram para uma festa. O Esmite era da Diretoria. Então fomos com Papai e Mamãe (naquele tempo filha só saia acompanhada dos Pais). Durante a festa conheci o Esmite e começamos a namorar. Quando chegou o carnaval o Esmite me inscreveu para participar do concurso de Rainha. As candidatas foram Eu, a Luiza Feitosa e a Floriza, na apuração dos votos eu fiquei como Princesa, foi então que o Esmite armou o maior barraco, porque eu não fui eleita Rainha. Nesse tempo a gente já morava em Porto Velho na Avenida Osório atrás do Colégio Maria Auxiliadora.
Zk – E o casamento?
Thereza Melo – Nós casamos no dia 10 de abril de 1948.
Ernesto Melo – Quando eles se casaram foram morar no Palacete do seu Herculano que era onde hoje existe o Iara Hotel.
Thereza – Nessas alturas o Esmite já funcionário da prefeitura e conseguiu esse terreno onde moramos até hoje e começou a construir nossa casa.
Zk – A senhora estudou em qual colégio?
Thereza Melo – Sempre no Maria Auxiliadora naquele tempo só estudava meninas. Comecei no Jardim, fui para a Alfabetização 1º Ano e as demais séries. Quando foi para prestar o Exame de Admissão fiz passei, porém, me casei e parei de estudar.
Zk - Onde o Esmite trabalhava?
Thereza Melo – Ele trabalhava no jornal Alto Madeira, depois foi para o jornal O Guaporé e já era da prefeitura. Ele também era diretor do Clube Guaporé que funcionava ali na José Bonifácio justamente onde hoje funciona a Rádio Boas Novas. O João do Rato era o presidente do Clube. O João tinha também uma carpintaria onde fazia Caixão e perto dessa carpintaria o Esmite tinha um Bar o “Ka Te Espera”, também tínhamos um restaurante que por muito tempo funcionou onde hoje é o Almanara.
Zk – A senhora tinha quanto anos quando casou com seu Esmite?
Ernesto Melo – Na realidade ela nasceu em 1932, porém, para casar tinha que aumentar um ano e meu pai conseguiu um Registro de Thereza Melo -Nascimento que diz que ela nasceu em 1931. Pra ela o ano de nascimento é 1932, porém, como o que vale é o que está escrito, ela é de 1931. Então oficialmente, vai completar 90 anos no próximo dia 15 de outubro.
Thereza – Tem uma história interessante. Quando morávamos no seu Herculano e quando dava à tardinha, eu ficava olhando lá para onde ficava o jornal Alto Madeira. Naquele tempo dava benzinho para ver, pois não existia essas casas entre a Gonçalves Dias e a Praça Jonathas Pedrosa e eu ficava vendo quando o Esmite saia do jornal para casa. Coisa de recém-casados.
Zk – É sabido que a residência de você era frequentada pela boemia de Porto Velho e mais, todo artista cantor que vinha fazer show em Porto Velho, tinha que visitar vocês. Como foi que seu Esmite conquistou isso?
Thereza Melo – O Esmite era muito comunicativo. Para você ter ideia, nós recebemos aqui em casa, o time do Vasco da Gama do Rio de Janeiro quando eles vieram jogar aqui. Tinha um primo meu que jogava no Vasco. Lembro do cantor Nerino Silva, Waldik Soriano que não saia daqui. Tem até uma história interessante com o Nerino Silva.
Zk – Conte pra gente essa história?
Ernesto Melo – De tantas vindas em Porto Velho e frequentar nossa casa, meu pai e o Nerino ficaram amigos e até chegaram a viajar pela Bolívia com meu pai como empresário do Nerino, porém, certa vez o empresário Esmite vendeu vários shows de novo para Guajará e Bolívia; acontece que o avião que ele vinha apresentou problemas e teve que ficar em Cuiabá e com os shows já vendidos meu pai teve que se virar para achar uma solução e o resultado foi que quem fez os shows foi o irmão do Caboco que era a cara do Nerino Silva e o imitava muito bem, tanto que ninguém percebeu a armação.
Zk - Seus filhos nasceram na maternidade?
Thereza Melo – Todos nasceram em casa sob os cuidados de Parteiras. Quem pegou o Ernesto foi a dona Piedade mãe do Leão José Athias aquele dos fogos Caramuru. Quem pegou o Esmitinho foi a dona Josefa avó do Jason. Tive oito filhos sendo 7 homens e uma mulher que era médica, tem também um filho médico o Edson que mora em Manaus.
Zk – Como era o seu Esmite como marido e pai?
Thereza Melo – Ele era muito bom. Os meninos chegavam do colégio e sempre vinham os colegas e o Esmite providenciava uma mesa com merenda e todos comiam. Ele jamais negou um prato de comida seja para quem fosse. Como marido também foi muito bom, apesar de em determinado período, eu desconfiar que ele andava com outras mulheres, nada que abalasse nosso casamento.
Zk – Como a senhora explica esse amor em ler o jornal impresso, principalmente agora que tudo pode ser acessado via Internet?
Thereza Melo – Como você acompanhou no desenrolar dessa entrevista. Sempre estivemos envolvidos com jornal e isso nos transformou em leitores assíduos de jornal impresso, começamos com o Alto Madeira, fomos para O Guaporé, assinamos o Estadão do Norte e desde quando inaugurou o Diário da Amazônia somos assinantes. Só lamento nos dias de hoje, que em virtude desse mal da Covid não fazem o jornal especificamente de domingo. Tomara que essa crise acabe logo, para o jornal voltar aos dias de domingo. A leitura do jornal impresso é muito melhor.
Zk – A senhora é aposentada como funcionária federal. Como foi que a senhora conseguiu emprego no governo?
Thereza Melo – O Esmite trabalhava no jornal O Guaporé onde também trabalhava o professor Enos Eduardo Lins e a Cosete e ela sempre dizia: Esmite traz a Theresa para trabalhar no governo, naquele tempo era fácil, porém, sempre o Esmite respondia: Mulher minha não trabalha. Até que com a insistência ele cedeu, então me levaram lá no Palácio Presidente Vargas e eu assinei minha nomeação. Não sabia fazer nada. Por ter a letra muito bonita fui escolhida para trabalhar no protocolo, foi quando me deram uma cartilha e eu passei a estudar datilografia e aprendi, antes eram aquelas máquinas que faziam tec depois vieram as elétricas e o negócio melhorou, passei a fazer memorando, oficio, cheguei a trabalhar no Gabinete do Governador Marques Henriques. Desde 1986 sou aposentada como funcionário federal, já que trabalhei o tempo todo como funcionária do Território Federal de Rondônia e por isso sou do quadro da União. Zk – A senhora foi casada por quantos anos?
Thereza Melo – Nos casamos em 1948 dia 10 de abril e só nos separamos com a morte do Esmite no dia 6 de agosto de 1996. Foram 48 anos de uma feliz união.
Zk – Agora para encerrar. Como foi criar esse monte de filhos e a casa cheia de gente?
Thereza Melo – Foi gostoso!