
Por G1
Publicada em 14/09/2021 às 14h52
O promotor-chefe do Haiti, Bedford Claude, pediu ao juiz que supervisiona a investigação do assassinato do presidente Jovenel Moise para denunciar o atual primeiro-ministro do país, Ariel Henry pelo crime. Claude também pediu que Henry seja impedido de deixar o país.
Moise foi executado a tiros em sua casa, na madrugada do dia 7 de julho, sem que nenhum dos membros de sua segurança tenha sido ferido (veja mais abaixo sobre o crime e a investigação).
"Existem elementos comprometedores suficientes para processar Henry e pedir sua acusação direta", escreveu o chefe da Promotoria no pedido ao juiz Garry Orelien.
Claude também afirmou, em uma carta aos serviços de imigração do país, que o primeiro-ministro deveria ser "proibido de deixar o território nacional por via aérea, marítima ou rodoviária devido à grave presunção relativa ao assassinato do presidente".
Ligações com suspeito
O promotor-chefe do Haiti havia convidado Henry na sexta-feira (10) para uma reunião sobre a investigação, que seria realizada nesta terça-feira (14), porque o primeiro-ministro falou com um dos principais suspeitos do caso poucas horas após o assassinato.
Henry foi convidado, não convocado, porque legalmente um primeiro-ministro só pode depor no Haiti se o presidente autorizar, mas o cargo está vago desde que Moise foi morto.
O premiê teve vários telefonemas com Joseph Felix Badio, que foi diretor da unidade anticorrupção do Ministério da Justiça do Haiti e autoridades dizem ter tido um papel fundamental no assassinato. Ele está foragido.
Claude afirma que duas das ligações ocorreram às 4h03 e 4h20 do dia 7 de julho, poucas horas após o crime, e evidências mostram que Badio estava nas proximidades da casa do presidente quando as ligações foram feitas.
Em meio à investigação, o ministro da Justiça do Haiti, Rockfeller Vincent, enviou uma dura carta ao chefe da Polícia Nacional exigindo que ele aumentasse imediatamente a segurança do promotor-chefe, que havia recebido ameaças "significativas e perturbadoras" nos últimos dias.
'Manobras de distração'
Nem Henry nem nenhum porta-voz do primeiro-ministro se pronunciaram até o momento. No sábado (11), ele havia afirmado que "manobras de distração, para criar confusão e impedir que a Justiça faça seu trabalho com calma, não serão aprovadas".
"Os verdadeiros culpados, os autores intelectuais, os co-autores e os patrocinadores do assassinato hediondo do presidente Jovenel Moise serão encontrados, levados à Justiça e punidos por seus crimes", afirmou Ariel Henry.
Segundo a agência de notícias Associated Press, o premiê já havia dito anteriormente a uma rádio local que conhecia Badio e o defendeu, dizendo não acreditar que ele estivesse envolvido no crime.
Badio foi diretor da unidade anticorrupção do Ministério da Justiça haitiano. Ele se juntou à unidade em 2013, mas foi demitido em maio após "violações graves" de regras éticas (que não foram reveladas na época).
Ameaças e morte durante investigação
Quarenta e oito pessoas, incluindo 18 colombianos e dois americanos de origem haitiana, foram presas como parte das investigações sobre o assassinato de Moise, que foi morto a tiros em sua casa sem que nenhum dos membros de sua segurança tenha sido ferido.
Em agosto, o jornal americano "The New York Times" revelou que um juiz e dois oficiais de Justiça estavam sofrendo pressão para alterar depoimentos de testemunhas e sendo ameaçados de morte.
Marcelin Valentin e Waky Philostène, os oficiais de Justiça, e Carl Henry Destin, o juiz, pediram apoio das autoridades de segurança, mas foram ignorados.
No mesmo mês, o juiz nomeado para supervisionar a investigação do crime renunciou ao cargo, alegando motivos pessoais, após um de seus assistentes morrer em circunstâncias pouco claras.
Em seu lugar foi nomeado Garry Orelien, o juiz que decidirá sobre o pedido para denunciar o primeiro-ministro do Haiti.
Pedido para premiê renunciar
Na segunda-feira (13), o Gabinete de Proteção ao Cidadão Haitiano publicou um vídeo exigindo a renúncia de Henry e pediu à comunidade internacional que pare de apoiá-lo.
"O primeiro-ministro não pode permanecer no cargo sem limpar essas áreas escuras", afirmou o advogado Renan Hédouville, que chefia o gabinete. "Você deve eliminar todas essas suspeitas."
