Por Deutsche Welle
Publicada em 24/09/2021 às 09h29
Presidente Umaro Sissoco Embaló decide adiar celebrações do Dia da Independência devido às restrições da Covid-19 na Guiné-Bissau. Transferência para o Dia das Forças Armadas é criticado, e adiamento é inédito no país.
A Guiné-Bissau completa esta sexta-feira (24.09) 48 anos da sua independência, e,pela primeira vez, não há qualquer celebração a nível oficial. O Presidente guineense disse que comemoração este ano terá lugar no dia 16 de novembro - Dia das Forças Armadas do país. A decisão está a gerar polémica entre populares e ex-combatentes da luta de libertação.
Antes de a decisão ser tornada definitiva pelo Governo, através do Conselho de Ministros, o Presidente Umaro Sissoco Embaló apareceu em duas ocasiões a anunciar o adiamento. Primeiro, justificou a decisão devido à época chuvosa, pela necessidade de ter vários convidados estrangeiros no país e por causa da sua participação na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Num segundo momento, o chefe de Estado evocou a pandemia da Covid-19. Por ocasião do 24 de setembro, Sissoco gravou uma mensagem à população:
"Hoje, os guineenses estão mais orgulhosos de verem resgatada a credibilidade interna e externa do nosso país, através de uma plena integração subregional, regional e internacional do nosso Estado. Com destaque para a dinâmica da nossa diplomacia, que visa aumentar o nível de respeitabilidade e de confiança do nosso país no mundo".
Para Umaro Sissoco Embaló, essas conquistas e as reformas no país devem ser asseguradas: "Temos o dever e a responsabilidade, enquanto cidadãos e patriotas, de preservar as conquistas que vamos alcançando e o respeito que vamos granjeando em África e no mundo - o que requer a implantação de ações mais enérgicas e eficientes no plano interno, com o especial destaque para a luta sem tréguas contra a corrupção e a injustiça".
Descontentamento da população
Mas o adiamento dos festejos oficiais de 24 de setembro para o dia 16 de novembro foi alvo de muitas críticas no país. A destacada ex-combatente da luta de libertação da pátria, Teodora Inácia Gomes, não escondeu a sua insatisfação:
"Todos sabem que os festejos da independência não se trocam com qualquer festejo. Se o Presidente da República acha que se vai festejar [o 24 de setembro] no dia 16 de novembro, que é o Dia das Forças Armadas, nós [combatentes da liberdade da pátria] não vamos ficar bem com essa atitude, porque há pessoas que deram as suas vidas para que este país conseguisse a sua soberania, bandeira e hino”.
Nas ruas de Bissau, os cidadãos ouvidos pela DW África também reprovaram o adiamento, que acontece pela primeira vez na história do país.
"Não é dia 16 [de novembro] que é a independência da Guiné-Bissau, é dia 24 de setembro, porque adiaram [as celebrações]?”, questionou uma estudante universitária. A opinião é partilhada por um funcionário público: "Tomar a decisão assim? Ele é chefe, mas, na Presidência da República, os conselheiros devem chamar o Presidente ou o Presidente, antes de tomar qualquer decisão, deve chamar os seus conselheiros e ouvi-los”, disse.
Outra voz que discorda é de uma comerciante: "Nunca vi isso em nenhuma circunstância, não percebo. Isso está muito mal e não percebo”, disse.
Depois de uma década de luta para a libertação e apesar de as hostilidades ainda continuarem, no dia 24 de setembro de 1973, o Estado da Guiné-Bissau foi proclamado pela Assembleia Nacional Popular na voz de João Bernardo Vieira, então líder do Parlamento e ex-chefe de Estado. A data costuma ser de festa, é celebrada pelo Governo, partidos políticos e ONGs.
Polémica à parte, quase meio século depois da independência da Guiné-Bissau, o presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, apontou na quinta-feira (23.09) para o fracasso na caminhada para o desenvolvimento.
"A grande interrogação que devemos colocar a nós próprios, enquanto cidadãos, é saber se os desígnios que presidiram a sua proclamação foram cumpridos”.
Para o líder do Parlamento, não restam dúvidas de que a resposta é negativa. Cassamá afirma que a classe política guineense mergulhou o país em permanentes "conflitos e instabilidades", que impediram a realização das "aspirações mais elementares dos cidadãos guineenses".