Por AFP
Publicada em 15/09/2021 às 15h30
O Banco Central do Afeganistão informou, nesta quarta-feira (15), que os combatentes talibãs entregaram US$ 12,3 milhões em dinheiro em espécie e várias barras de ouro, recuperados das casas de ex-autoridades do governo anterior, incluindo a do ex-vice-presidente Amrullah Saleh.
"O dinheiro recuperado veio de funcionários de alto escalão no governo anterior (...) e de uma série de agências de segurança nacional que tinham dinheiro em espécie e ouro em suas casas", afirmou o comunicado.
"O Emirado islâmico" - nome dado pelos talibãs ao Afeganistão - transferiu todo o dinheiro para "os cofres nacionais" em nome da "transparência" da qual os islâmicos se vangloriam, em contradição ao antigo governo, cuja corrupção eles denunciam.
Durante o governo do então presidente Ashraf Ghani, a corrupção era endêmica e generalizada. Milhões de dólares em ajuda estrangeira ao país teriam sido desviados.
O próprio Ghani é acusado de levar milhões de dólares quando fugiu para Abu Dhabi, o que ele nega.
Os talibãs estão investigando as contas bancárias de ex-funcionários de alto escalão do governo afegão deposto, em busca de provas de renda ilícita, relataram dois funcionários do setor na terça-feira (14).
- Sucursais fechadas -
Um mês depois da queda de Cabul, a população afegã continua preocupada com a situação econômica e o medo de que cheguem novas proibições que acabem com os direitos conquistados nos últimos vinte anos.
A maioria dos funcionários públicos ainda não voltou a trabalhar e grande parte deles sofre para sobreviver com a falta de salário.
Para os que têm dinheiro no banco, os saques foram limitados a cerca de 200 dólares por semana e por pessoa, para evitar um colapso do sistema bancário.
Privado dos auxílios do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e com as reservas do Banco Central congeladas pelos Estados Unidos, o país enfrenta uma escassez de liquidez.
Empresas especializadas em transferência de dinheiro, como Western Union e Moneygram, anunciaram a retomada de suas operações, suspensas em 18 de agosto. Mas nas ruas, muitos afegãos indicam que suas sucursais não têm dinheiro suficiente.
Abdul Rahim, um militar reformado, percorreu quase 1.000 km de Faryab, no norte do Afeganistão, até Cabul para recuperar seu salário.
"As sucursais dos bancos estão fechadas no interior do país", explica à AFP. Mas na capital, "venho há três dias ao banco em vão. Hoje cheguei às dez da manhã e já havia 2.000 pessoas esperando", conta.
Diante do risco de catástrofe humanitária, a comunidade internacional se comprometeu, segundo a ONU, a conceder 1,2 bilhão de dólares em ajuda para as ONGs no país.
Nesta quarta-feira, a União Europeia anunciou um auxílio extra de 100 milhões de euros (118 milhões de dólares) ao país asiático.
Países aliados de Rússia e China prepararam nesta quarta-feira no Tadjiquistão uma série de reuniões que serão celebradas na quinta e na sexta sobre o futuro do Afeganistão.
Participarão destas cúpulas os países-membros da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, formada por ex-repúblicas soviéticas, e da Organização de Cooperação de Xangai, formada por China, Rússia, Índia e Paquistão, entre outros países.
- Fuga da equipe de futebol feminino -
Outra preocupação da população é a situação das mulheres: serão autorizadas a trabalhar?
"Os talibãs nos disseram para ficarmos em casa", conta uma funcionária do ministério de Telecomunicações.
No governo anterior do Talibã, entre 1996 e 2001, as mulheres eram proibidas de estudar, trabalhar e praticar esportes.
Diante desta incerteza, jogadoras das seleções femininas juvenis de futebol do Afeganistão chegaram na terça-feira ao Paquistão, segundo as autoridades paquistanesas.
As jogadoras tinham tentado fugir do país em meados de agosto, mas ficaram bloqueadas pelo atentado nos arredores do aeroporto de Cabul, em 26 de agosto, informou à AFP uma fonte próxima da equipe.
O único ponto positivo deste panorama sombrio é que a segurança teria melhorado no país, segundo muitos moradores, após anos de atentados e homicídios seletivos.
"Atualmente, a situação do país é boa, não há guerra", assegurou Mohammad Ashraf, um habitante afegão.