Por G1
Publicada em 28/10/2021 às 14h57
O ex-presidente da Argentina, Mauricio Macri, compareceu nesta quinta-feira (28) à Justiça para prestar depoimento sobre um caso suspeito de espionagem que teria acontecido durante seu governo, mas a audiência foi suspensa pouco depois de começar.
Segundo o advogado de Macri, a audiência foi cancelada porque o juiz do caso, Martín Bava, não pediu para que o ex-presidente fosse autorizado a revelar informações sigilosas. Assim, Macri não poderia dar declarações.
Era o juiz que tinha a obrigação de pedir isso para a agência de inteligência da Argentina. Agora, Macri só vai prestar esclarecimentos à Justiça se o atual presidente, Alberto Fernández, autorizá-lo a falar sobre informações sigilosas.
O caso na Justiça
Familiares dos 44 tripulantes mortos no naufrágio de um submarino militar em 2017 teriam sido alvo de escutas telefônicas ilegais enquanto exigiam respostas do governo argentino.
O conservador Macri, de 62 anos, afirmou pouco antes de entrar no tribunal que sofre com "calúnia e perseguição", e que encara a Justiça "com tranquilidade".
"Não devemos conviver com uma cultura de poder perversa que usa uma tragédia para causar danos", disse o ex-presidente argentino.
Macri chegou ao tribunal de Dolores, a 200 quilômetros de Buenos Aires, por volta do meio-dia, acompanhado por uma caravana de apoiadores.
Ele faltou às duas intimações anteriores: a primeira, por estar no exterior; e a segunda, por ter solicitado a suspensão do juiz que cuida do caso, Martín Bava.
O julgamento acontece em meio à campanha eleitoral para as eleições parlamentares marcadas para 14 de novembro, nas quais a coalizão de centro-direita de Macri deve obter uma votação significativa.
O submarino "ARA San Juan" da Marinha Argentina, um TR-1700 de fabricação alemã com 66 metros de comprimento, desapareceu em novembro de 2017 com 44 pessoas a bordo.
A embarcação fazia um exercício de rotina, enquanto patrulhava as águas argentinas. O navio foi encontrado um ano depois, a 900 metros de profundidade, com a ajuda de marinhas de outros países.
Os familiares dos soldados mortos no naufrágio denunciam ter sido alvo de escutas telefônicas e de outras interceptações durante o ano em que tentavam descobrir o que aconteceu.
Luis Tagliapietra, pai de um dos marinheiros e advogado, disse à agência France Presse que busca por respostas e quer entender o que levou à instauração das escutas ilegais.
"Esperamos que Macri, em vez de tentar uma defesa absurda, nos diga a verdade sobre quais foram os motivos para nos espionar ilegalmente", Tagliapietra.
A defesa de Macri sustenta que o caso é fundado em "acusações falsas". Além disso, os advogados do ex-presidente tentaram invalidar o julgamento e pedir a retirada do juiz responsável.
A medida foi rejeitada pela Câmara Federal de Mar del Plata na quarta-feira (27), que apelou por "moderação" uma vez que o caso tem "possível impacto social" em meio a um tenso clima político.
Já são processados neste caso os então chefes dos serviços de Inteligência da Argentina, Gustavo Arribas e Silvia Majdalani.
O ex-presidente chegou a ser processado em 2010 por grampear ilegalmente um parente e vários adversários, quando era prefeito de Buenos Aires (2007-2015).
O caso foi arquivado logo depois que ele assumiu a presidência, em 2015 – ele deixou o cargo em 2019, após as eleições que deram vitória ao esquerdista Alberto Fernández.