Por Professor Nazareno
Publicada em 01/10/2021 às 08h52
Professor Nazareno*
Porto Velho, a sombria e bisonha capital de Roraima, está mais uma vez fazendo aniversário. São pelo menos 107 anos tentando ser uma cidade minimamente habitável. Estranhamente o município é uma capital de Estado, embora seus índices de qualidade de vida e de características urbanas ainda sejam de uma currutela fedida, daquelas que só se viam em plena Idade Média. Pela sua posição geográfica afastada, Porto Velho não era para sediar a administração de um Estado. Não fossem as pedras e corredeiras no rio Machado, a capital de Rondônia há tempos seria Ji-Paraná ou Rolim de Moura, cidades limpas, floridas, organizadas e bem mais centralizadas. O acanhado porto no rio Madeira fez a diferença lá no distante 1914 e continua até hoje sendo o fiel da balança. Mas a cidade em todo este tempo não evoluiu nada e continua sendo a latrina do Brasil.
E quem diz isto é o Instituto Trata Brasil. Os rankings de saneamento básico e de água tratada apontam a capital dos rondonienses como sendo a penúltima cidade dentre as cem maiores do país. Sempre ficamos em último lugar, mas as promessas de termos água tratada, esgoto e limpeza são anuais. Situada em plena Amazônia do Brasil, temos apenas 4,67 por cento de esgotos e somos beneficiados com pouco mais de 37% de água encanada. Aqui, bebemos água de imundos poços artesianos que têm mais coliformes fecais do que propriamente água. Ou seja, morar na Porto Velho dos 107 anos é ainda ter que saciar a sede com merda mesmo. Diferente das cidades europeias ou mesmo de muitas cidades do sul do Brasil, caminhar pelas avenidas de Porto Velho é sentir o mau cheiro da podridão de veredas sem esgotos com ratos, carniça, urubus, lixo e tapurus.
Desde 1914 que Porto Velho tem prefeito, mas é como se nunca tivesse sido administrada por alguém comprometido com a municipalidade. Em tempo: a cidade nunca foi governada por um legítimo filho seu. O fedorento lugar é como se fosse um imundo e sujo lodaçal sem eira nem beira, uma curva de rio perdida e amaldiçoada. Durante a atual pandemia do Coronavírus, por exemplo, prometeram 400 mil doses de vacinas. Era tudo conversa fiada. Hoje, a cidade já conta com 87 mil casos de Covid-19 e mais de 2500 mortes. Chegou-se ao absurdo de quase faltar cemitério para enterrar tanta gente. Reduto bolsonarista e permeada de gente muito pobre, mas de direita e reacionária, Porto Velho não tem nada de belezas naturais, não tem nada para se ver e por isso, seu turismo é incipiente e quase não existe. Qual o louco que viria nos visitar?
A capital da imundície não tem árvores. As poucas que tinha na Avenida Tiradentes, o atual prefeito e a SEMA mandaram arrancar pela raiz e nada colocaram no lugar. Até hoje ficou só o buraco por lá. O calor é cruel e desumano. No verão é só fumaça das queimadas e no inverno são as enchentes e alagações com lama podre e infecta. Os igarapés que cortam a urbe viraram esgotos podres com dejetos boiando em suas águas mortais. Ninguém quer saber desta aniversariante. Em vez dos alemães, franceses, austríacos ou belgas, são enxurradas de haitianos e venezuelanos, pobres e desempregados, que “enfeitam” os sinais de trânsito com seus filhos pequenos a pedir esmolas para comer. Porto Velho é um tosco fim de mundo, o esfíncter anal. Um rincão amaldiçoado que nunca prospera. Aqui não há rodoviária, hospital de pronto-socorro, arborização nem mobilidade. E só tem 107 anos. Mas se tivesse mil, seria tão diferente?
*Foi professor em Porto Velho