Por Professor Nazareno
Publicada em 11/10/2021 às 12h04
O presidente Jair Bolsonaro vetou recentemente a distribuição de absorventes higiênicos pelo governo para as mulheres pobres e em situação de vulnerabilidade. “O Estado não tem de onde tirar os recursos para custear esse projeto”, afirmou o nosso mandatário. O país quase parou. Foi uma comoção nacional e quase todos os políticos, da esquerda até à extrema-direita, fizeram discursos patrióticos e emocionados em defesa das mulheres. Muitos deputados, prefeitos e governadores, contrários ao veto presidencial, já prometeram que vão remanejar verbas para atender a essa demanda “extremamente importante” para o público feminino. Alguns lembraram que o poder público já há muito tempo distribui, sem maiores problemas, o preservativo masculino principalmente durante o período de Carnaval. “Para isso há verbas sobrando”, dizem.
Não se pode discutir a importância do uso de absorventes íntimos pelas mulheres. Principalmente as presidiárias e também aquelas que não têm de onde tirar recursos para arcar com mais esta despesa em seus apertados orçamentos. Muitas meninas das classes pobres, por exemplo, perdem aulas quando estão menstruadas. Não há dinheiro sobrando para comprar absorventes. Algumas usam papel higiênico, sacolas de supermercados, miolo de pão e até panos velhos. Todas elas correm sérios riscos de contrair infecções, desenvolver alergias e infertilidade, que em casos mais graves pode levar até ao óbito. Mas a discussão maior não é esta. O governo deveria aumentar o salário mínimo ou então criar melhores condições para aumentar o orçamento familiar dos brasileiros. O nosso menor salário é de apenas 190 dólares. Uma vergonha infame.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já disse que o veto do Bolsonaro a esse projeto do absorvente feminino “é candidatíssimo a ser derrubado”. Ou seja, a nata dos políticos brasileiros se uniu em prol de um objetivo nacional e inadiável: proteger a menstruação de parte das brasileiras de baixa renda. Enquanto isso, muitas dessas mesmas brasileiras continuam frequentando as “filas do osso” espalhadas pelo Brasil a fora. Várias delas se alimentam de pelancas, pés de galinha e osso. Há muito tempo que a fome e a miséria “já virou rotina” nas classes sociais menos abastadas deste país e ninguém, absolutamente ninguém, toma providência. A questão do absorvente feminino virou uma “cortina de fumaça” para esconder problemas mais urgentes da nossa sofrida população. A inflação galopante no atual governo condena muitos a mais pobreza ainda.
Incompetente, o “Mito” já disse que não há o que fazer para debelar a alta dos preços que assombra o país. Ou seja, a transferência de renda dos pobres e miseráveis para as classes mais abastadas neste governo insano e monstruoso continuará “na cara das autoridades”. Em vez de mostrar exagerada preocupação com a menstruação das mulheres, a classe política do Brasil deveria lutar para combater as vergonhosas filas de pessoas mendigando ossos e pelancas para poder se alimentar. A luta para diminuir a nossa monstruosa desigualdade social e as nossas injustiças traria muito mais efeitos positivos para os cidadãos e cidadãs deste país. Um salário mínimo de 800 ou mil dólares mensais acabaria com grande parte da miséria em que vivemos. E daria também para comprar, com sobras, os absorventes femininos. Os nossos políticos já usaram de tudo para se promover e ganhar votos. Mas usar menstruação é a primeira vez que se vê.
*Foi Professor em Porto Velho.