Por DW
Publicada em 15/10/2021 às 15h11
País passa a exigir que cidadãos apresentem comprovante de vacinação ou teste negativo para acessar local de trabalho. Medida gera manifestações em várias cidades, mas parece ter incentivado a busca por vacina.
Uma série de protestos acometeram a Itália nesta sexta-feira (15/10), quando uma das medidas anticoronavírus mais duras já adotadas na Europa entrou em vigor. As autoridades italianas determinaram que todos os trabalhadoresdo país necessitam de um documento, uma espécie de passaporte sanitário, para entrar em seus locais de trabalho.
As novas medidas, que afetam cerca de 23 milhões de funcionários tanto nos setores público quanto no privado, enfrentam certa resistência. Algumas cidades italianas tiveram manifestações nesta-sexta feira, e a expectativa é de que outras ocorram à noite.
A polícia elevou sua presença nas ruas, as escolas encerraram as aulas mais cedo, e embaixadas emitiram avisos de possíveis atos agressivos em meio a temores de que as manifestações antivacinação pudessem se tornar violentas, conforme ocorreu em Roma no último fim de semana.
O chamado "Passe Verde" exibe a prova de imunização completa, um teste negativo recente ou se o portador foi infectado e se recuperou da covid-19 nos últimos seis meses. A Itália já exigia a apresentação do tal passaporte sanitário para o acesso a todos os tipos de ambientes internos, incluindo restaurantes, museus, teatros e trens de longa distância.
Mas a adição da exigência de apresentá-lo no local de trabalho gerou um debate acalorado e oposição num país que produziu imagens das mais aterrorizantes no início da pandemia e que possui uma das taxas de vacinação mais altas da Europa.
"Hoje, eles estão pisando em nossa Constituição", disse Loris Mazzarato, um manifestante contrário à vacinação contra a covid-19. "Eu digo não a esta discriminação."
Mazzarato era um das centenas de manifestantes em Trieste, próximo da fronteira com a Eslovênia, no extremo nordeste da Itália, onde protestos de trabalhadores portuários que se recusavam a mostrar um "Passe Verde" ameaçaram impactar as atividades comerciais, embora relatos iniciais sugerissem que o porto seguia em operação. Em Florença, na costa oeste do país, manifestantes gritavam por "liberdade".
O passe sanitário
A nova regra impõe um ônus tanto ao trabalhador quanto ao empregador, com a imposição de multas. Aparatos eletrônicos capazes de decifrar códigos QR de smartphones com o "Passe Verde" foram instalados em grandes locais de trabalho, como no escritório do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, e na sede da companhia ferroviária estatal Trenitalia.
Mas em locais menores, como restaurantes ou clubes esportivos, os funcionários e gerentes tiveram que baixar um aplicativo capaz de escanear os códigos. Embora não estivesse claro com que rigor a Itália aplicaria a exigência, o medo de auditorias pontuais levou as empresas a cumpri-la, ao menos inicialmente.
As sanções para os empregadores que falharam no controle de seus funcionários variam entre 400 e 1.000 euros. Um trabalhador que não apresentar o "Passe Verde" no trabalho é considerado ausente sem justificativa e pode ser sancionado com multas de 600 a 1.500 euros.
Mas críticos apontaram algumas controvérsias. Por exemplo, caixas de supermercado e cabeleireiros precisam ter um "Passe Verde" válido para trabalhar, mas seus clientes, não, além de precisarem usar máscara apenas em locais fechados.
Meta é incentivar vacinação
O objetivo da exigência é aumentar ainda mais as taxas de vacinação. Embora tenha sofrido bastante na primeira onda de covid-19, a Itália conseguiu manter a variante delta sob controle, com cerca de 67 infecções diárias por grupo de cem mil habitantes e um número diário de mortes que não ultrapassou 70 por meses.
E a nova regra, aparentemente, fez com que mais pessoas fossem aos postos de vacinação. O número de aplicações de primeira dose na quinta-feira aumentou 34% em comparação com o início da semana, segundo relato das autoridades sanitárias da Itália.
Ao todo, cerca de 81% da população italiana acima de 12 anos está completamente imunizada.