Por G1
Publicada em 06/11/2021 às 08h57
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, concorre, no domingo (7), ao seu quarto mandato consecutivo —ele está no poder desde 2007. Na prática, ele concorre sozinho: todos os candidatos com potencial de enfrentá-lo foram presos ou forçados a sair do país. O principal partido de oposição foi formalmente impedido de concorrer.
Ortega permitiu que outros cinco candidatos, todos desconhecidos, concorressem.
Nos últimos meses, o regime da Nicarágua
Prendeu sete pré-candidatos;
Prendeu 39 políticos, empresários, agricultores, estudantes e jornalistas;
Cassou três partidos políticos.
Uma das pessoas presas é a ex-miss nicaraguense Berenice Quezada, que foi pré-candidata a vice-presidência na chapa lançada pelo partido Cidadãos pela Liberdade (CxL). Ela foi rotulada de terrorista, e sua prisão domiciliar foi decretada pelo regime. Ela foi considerada inabilitada para concorrer às eleições.
O atual presidente tem como companheira de chapa a mulher Rosario Murillo, que ele chama de “copresidenta”. Os dois lideram a Frente Sandinista de Libertação Nacional, um partido derivado de uma frente de guerrilha dos anos 1970.
Uma pesquisa da consultoria Cid-Gallup aponta que 65% das pessoas da Nicarágua votariam em um opositor, e 19%, em Ortega.
Detidos são acusados de traição
A favorita para ser eleita era Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios (1990-1997) e que está em prisão domiciliar.
Os detidos são acusados de atentar contra a soberania e promover sanções contra a Nicarágua, "traição à pátria" ou "lavagem de dinheiro", com base em leis aprovadas em 2020 pelo Congresso, sob controle governista, assim como o Poder Judiciário e as autoridades eleitorais.
Fuga em massa para o exílio
Para Ortega, os mais de 150 opositores detidos desde 2018 não são políticos, e, sim, "criminosos" e "golpistas" patrocinados por Washington.
Mais de 100 mil nicaraguenses partiram para o exílio, sobretudo Estados Unidos e Costa Rica, durante a crise política.
Segurança no dia da votação
Mais de 30 mil policiais e soldados foram mobilizados desde o começo da semana na Nicarágua para resguardar as eleições de domingo.
O tribunal eleitoral, com a ajuda de militares e policiais, começou a distribuição de caixas com as cédulas eleitorais, a tinta e outros materiais que serão usados nos mais de 3.000 centros de votação, anunciou a presidente do Conselho Supremo Eleitoral (CSE), Brenda Rocha, durante ato oficial.
O comandante do Exército, general Julio Avilés, informou que 15 mil soldados participarão do plano de segurança, com o apoio de 600 meios de transporte terrestre, 400 equipamentos de comunicação de rádio, sete veículos aéreos e 80 embarcações da Marinha.
A polícia vai mobilizar 16.665 homens.
Críticas da União Europeia
O governo rejeitou a observação internacional de organismos como Organização dos Estados Americanos (OEA) e União Europeia.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou na terça-feira que as eleições não serão legítimas porque Ortega prendeu todos os outros candidatos.
"O senhor Ortega se preocupou em prender todos os candidatos políticos que se apresentaram a essas eleições e não podemos esperar que este processo chegue a um resultado que possamos considerar legítimo, e sim o contrário", declarou Borrell.
"A situação na Nicarágua é uma das mais graves que há neste momento no continente americano", disse Borrell. Segundo ele, o processo eleitoral só busca a "manutenção no poder do ditador" Ortega, e as eleições no país “são completamente fake " (de mentira), disse ele.
Críticas similares à Nicarágua foram feitas na semana passada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que afirmou que as atuais condições repressivas "tornam inviável um processo eleitoral íntegro e livre".
O Senado dos Estados Unidos aprovou, na segunda-feira, um projeto para aumentar a pressão diplomática sobre Ortega (no poder desde 2007).
Contas falsas em rede social ligadas ao governo
A Meta, empresa controladora do Facebook, anunciou na segunda-feira (1º) que eliminou de suas redes mais de mil contas administradas pelo governo da Nicarágua para manipular o debate público e atacar a oposição, a uma semana das eleições presidenciais.
"Essa foi realmente uma operação cruzada do governo, a fazenda de trolls consistia em vários grupos administrados em múltiplas entidades governamentais diferentes de cada vez", disse o líder global de Inteligência para Operações de Influência da Meta, Ben Nimmo.
O esquema funcionava desde abril de 2018 e suas redes foram eliminadas em outubro de 2021. Foram 937 contas do Facebook, 363 do Instagram, 140 páginas e 24 grupos.
Segundo a Meta, as contas eram operadas pelo governo da Nicarágua ou pelo ex-guerrilheiro Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, esquerda), no poder desde 2007.
As contas tinham cerca de 585 mil seguidores. Os perfis no Instagram eram seguidos por 125 mil contas.