Por G1
Publicada em 05/11/2021 às 14h57
A jornalista chinesa Zhang Zhan enfrenta uma condenação de quatro anos de prisão por conta da cobertura independente que fez da pandemia em Wuhan, em fevereiro do ano passado.
Nesta sexta-feira (5) a família de Zhang, disse estar preocupada com a filha que, em greve de fome, está bastante debilitada e pode não resistir ao rigoroso inverno chinês.
A repórter de Xangai foi à metrópole considerada então epicentro da Covid-19 no mundo para registrar o confinamento dos mais de 11 milhões de moradores.
Segundo as autoridades chinesas, Zhang estaria "comprando briga e provocando problemas". Desde a prisão, sua família alega ter dificuldades de se comunicar com ela.
Ela é uma de pelo menos quatro jornalistas que desapareceram em 2020 na China depois que postaram informações que contradiziam a narrativa oficial.
Advogada por formação
Zhang, de 37 anos, é o que é chamada pela Anistia Internacional de "jornalista-cidadã" – que não está vinculada a jornais ou outros meios da imprensa tradicional, que é controlada na China.
"Devemos ir atrás da verdade qualquer seja o custo", dizia Zhang, segundo a organização de direitos humanos.
Advogada de formação, ela decidiu trabalhar de forma independente para reportar o que via nas ruas de Wuhan, então em lockdown.
"Jornalistas-cidadãos enfrentam frequentes assédios por exporem informações que o governo gostaria que ficassem guardadas", disse Anistia.
Meses de gravações
Durante meses, Zhang registrou cenas de hospitais lotados, confusão nas ruas e foi uma das primeiras a gravar a cidade deserta no primeiro confinamento obrigatório.
Em maio de 2020, no entanto, Zhang foi abordada durante uma das suas gravações – que foi a última registrada.
Ela percorria as ruas de um bairro onde surgiram novos casos de Covid-19 quando um homem não identificado a para e pergunta onde ela mora e se é jornalista.
Ele então a ameaça dizendo que se postasse o material online, ela seria responsabilizada. Dias depois ela foi detida pela polícia chinesa.
Greve de fome
No meio do ano passado, Zhang iniciou uma greve de fome como forma de protesto por sua prisão. Ela ficou tão fraca, que precisou ir ao julgamento em uma cadeira de rodas, informou a Anistia.
Segundo a organização de direitos humanos, a jornalista continua a protestar com uma greve parcial de fome para evitar maiores punições e alimentação forçada dentro da prisão.
A Anistia Internacional disse em nota que Zhang chegou a ser levada para o hospital em julho de 2021 em uma condição "dramática" pesando menos de 40 quilos. E que seu corpo deteriora cada vez mais.
Censura também a médicos
No dia 31 de dezembro de 2019, o médico chinês Li Wenliang compartilhou em um grupo de colegas um alerta sobre um vírus até então não identificado, que seria altamente contagioso.
As autoridades o acusaram de espalhar boato e o obrigaram a assinar um documento em que reconhecia ter cometido uma ilegalidade. Ele morreu de Covid no dia 6 de fevereiro.
Virou uma espécie de mártir, e o governo chinês teve que voltar atrás. Agradeceu e reconheceu a contribuição do médico na linha de frente do combate a pandemia.