Por AFP
Publicada em 11/11/2021 às 15h37
Os talibãs substituíram a estátua de um político da minoria hazara, declarado mártir nacional no Afeganistão sob o governo anterior, por uma réplica do Alcorão - relataram nesta quinta-feira (11) moradores da cidade de Bamiyan, onde a estátua estava localizada.
Esta obra representava Abdul Ali Mazari, um líder da comunidade hazara. Ele foi assassinado em 1995, depois ser preso pelo Talibã durante sua primeira tomada do poder.
A estátua já havia sido decapitada por uma granada, pouco depois do retorno dos talibãs em agosto. Os moradores locais atribuíram este incidente aos radicais islâmicos.
Segundo a interpretação estrita do Islã por parte dos talibãs, é proibido representar um ser humano em pintura, ou em escultura e, às vezes, também na fotografia.
"Ontem, retiraram completamente a estátua e substituíram-na por uma réplica do Alcorão", contou Abdul Danishyar, um ativista da sociedade civil em Bamiyan, no centro do país.
"Eles estão tentando apagar a história de Bamiyan. A população vai reagir violentamente a isso", disse ele à AFP.
A estátua ficava na praça central de Bamiyan. Foi nessa região, em 2001, que os talibãs destruíram estátuas de Buda de 1.500 anos de antiguidade, um ato que gerou protesto internacional.
Ferrenho opositor do Talibã, Mazari foi nomeado, oficialmente, "mártir pela unidade nacional do Afeganistão" pelo então presidente, agora deposto, Ashraf Ghani, em 2016.
De maioria xiita, a comunidade hazara representa entre 10% e 20% dos 38 milhões de afegãos. É há tempos perseguida pelos extremistas sunitas neste país marcado por divisões étnicas e religiosas.
Considerados hereges, os hazaras costumam ser alvo de ataques por parte dos talibãs e do grupo jihadista Estado Islâmico.