Por Professor Nazareno
Publicada em 03/11/2021 às 08h28
Professor Nazareno*
A COP26, a conferência do clima que começou esta semana em Glasgow na Escócia, reservou uma daquelas surpresas mais do que agradáveis para Rondônia, Estado brasileiro periférico, sem eira nem beira e localizado em plena região amazônica do país. Walela Txai Suruí, uma linda e encantadora mulher com seus 24 anos, cativou o mundo com suas sábias palavras na abertura da cúpula mundial do clima. Falando num inglês perfeito e sem nenhum arrodeio, a jovem desbancou todas as autoridades constituídas do país que viajaram com dinheiro público para representar o Brasil. Apesar de estar na Europa, o desprestigiado e inútil presidente Jair Bolsonaro não participou da abertura nem da conferência. Também o governador de Rondônia, Marcos Rocha, teria viajado para a Escócia. Só que os dois foram solenemente ignorados ali.
Talvez poucos rondonienses conheçam o trabalho da jovem indígena. Estado baseado na agropecuária e resultado de um dos maiores desastres ambientais do planeta, a jovem unidade da federação até hoje nada deu nem nada trouxe de bom para o Brasil nem para o mundo. Com quase 15 milhões de cabeças de gado, três hidrelétricas, dois biomas reconhecidos mundialmente e uma população menor do que dois milhões de habitantes, Rondônia sempre foi uma vergonha nacional. Todos os anos durante o verão amazônico, a floresta pega fogo em Rondônia e as suas poucas cidades vivem sob um manto vergonhoso de fumaça tóxica mostrando ao mundo como os brasileiros e principalmente os rondonienses tratam o seu meio ambiente. A jovem índia não só defende o ecossistema local como também atua em muitas frentes na defesa da natureza.
Destaque na COP26, a jovem paiter-suruí tem pai perseguido pelo governo Bolsonaro e mãe ameaçada de morte. Na cúpula do clima, no entanto, ela ensinou ao mundo a sabedoria indígena e mostrou como salvar o planeta da catástrofe iminente. “Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores”, ensinou ela num inglês impecável. Mas tomara que ela continue com a sua boa e útil militância em defesa da natureza e da floresta amazônica em vez se meter na política. Teria poucos votos num universo onde o povo pobre, apesar de estar passando fome e ameaçado de desaparecer, prefere votar nos políticos ricos e ligados ao agronegócio. Aqui já vi voto “na galega do saquinho”, “na menina do pacu grande” e até quem diz que “Rondônia não é Roraima” pode ter votos.
Para as próximas eleições no Estado, os candidatos bolsonaristas e mais reacionários, que estão ligados à devastação da natureza local e consequentemente ao agronegócio, disparam na preferência do “analfabeto” eleitor rondoniense. O Brasil é o vilão do clima mundial. Nossas autoridades se escondem e não nos representam como deviam. E é como disse a jornalista Luciana Oliveira: “Jair Bolsonaro como presidente do Brasil entrou e saiu da COP26 sem ser notado. Parece que ninguém o viu por lá. Já o governador Marcos Rocha, aliado na destruição do meio ambiente e perseguição aos povos originários, entrou e saiu da COP26 também sem ser notado. Enquanto isso, a jovem indígena suruí, entrou anônima, sem cargo público, sem poder político ou econômico e saiu por seu discurso engajado sob os holofotes da imprensa global”. Txai Suruí me representa e representa Rondônia. Assim como a parintintin Francisca Pereira.
*Foi professor em Porto Velho