Publicada em 10/12/2021 às 11h50
A jornalista filipina María Ressa atacou nesta sexta-feira (10) na recepção conjunta do prêmio Nobel da Paz junto ao russo Dimitri Muratov, os grandes grupos tecnológicos americanos que, segundo ela, são culpados por permitir a difusão de "uma lama tóxica" nas redes sociais.
A tecnologia dessas empresas "permitiu que o vírus da mentira infectasse cada um de nós, nos fazendo enfrentar uns aos outros, expondo os nossos medos, nossa raiva e nosso ódio, preparando o terreno para a chegada de líderes autoritários e de ditadores", disse a co-fundadora do site de notícias Rappler.
"O que mais precisamos agora é transformar esse ódio, essa violência, a lama tóxica que percorre o ecossistema da informação, porque as empresas americanas da internet ganham mais dinheiro à medida que o ódio se espalha", acrescentou.
"Essas empresas americanas (...) são inimigas dos fatos, inimigas dos jornalistas. Sua natureza é nos dividir e nos radicalizar", explicou a jornalista de 58 anos.
No entanto, "sem os fatos, não podemos ter a verdade. Sem a verdade, não podemos ter a confiança. Sem confiança, não temos (...) democracia, e se torna impossível enfrentar os problemas existenciais do nosso planeta: o clima, o coronavírus, a luta pela verdade", acrescentou.
À frente do Rappler, Ressa se tornou um símbolo da luta pela liberdade de imprensa na era dos líderes autoritários. Por conta disso, enfrenta vários processos judiciais nas Filipinas.
"O que acontece nas redes sociais não fica nas redes sociais", disse ela, muito crítica ao presidente Rodrigo Duterte, a quem denuncia pelos métodos brutais de seu combate às drogas. "A violência pela internet é uma violência autêntica".
Ressa está em liberdade condicional à espera da decisão pelo recurso apresentado após sua condenação por difamação. Por conta disso, precisou pedir permissão a quatro tribunais para poder viajar a Oslo e receber pessoalmente o prêmio Nobel nesta sexta-feira.