Publicada em 04/01/2022 às 09h00
A história do político Leonel Brizola considerado por jornalistas e estudiosos, como o último caudilho é simples, clara e de fácil compreensão, como é o fato do surgimento e a negação de um vírus que destrói vidas. Neste mês de janeiro, mais precisamente no dia 22, estará sendo comemorado no Rio Grande do Sul, Brasília e outras capitais, o centenário de nascimento em 1922, desta figura emblemática que deixou marcas indeléveis na historia do Brasil.
Com palestras e debates, em clubes, CTGS, o lançamento da biografia, escrita pelo jornalista, José Augusto Ribeiro, nas sedes do Partido Trabalhista Brasileiro (PDT), criado por Brizola ainda no século passado, será inaugurado estatuas dele em tamanho original, assim como no Teatro São Pedro no centro da capital sulina, ensaiadas em três tempos, peças teatrais interpretadas por artistas regionais serão levadas ao público a partir de 10/01/2022.
Montado numa carreira política meteórica, sempre com frases de efeito, lembrando Getúlio Vargas, Leonel Brizola foi eleito governador do Rio Grande do Sul aos 36 anos de idade, em 1958, com uma votação superior aos seus três adversários juntos. Iniciou ali, um projeto ambicioso de desenvolvimento econômico e social construindo mais de seis mil escolas públicas no interior do estado, muitas delas existem até hoje, implantando a faculdade de agronomia do município Viamão ao lado de Porto Alegre, que na atualidade é um exemplo de ensino de qualidade.
Implanto escolas técnicas agrícolas, cursos de técnicos de inspeção e sacudiu a área de saúde com cursos de enfermagem e tantos outros. Levou aos pequenos e médios agricultores visando melhorar a produção no campo o que existia de mais prático na metade do século passado. Para ele, o País só alcançaria um nível de desenvolvimento social baseado na educação e no conhecimento.
No iniciou de década de 1960, ainda guri, analfabeto, filho de agricultores pobres, naqueles tempos difíceis, arribei para Porto Alegre, em busca de dias melhores com o intuito de estudar. Durante a campanha política, Leonel Brizola depois de um comício em São Pedro do Sul, onde morávamos jantou na chácara de meus pais, um churrasco de carneiro, onde a conversa entre ele e pequenos produtores rurais entrou pela madrugada.
Com poucos recursos e conhecimentos esparsos, consegui uma vaga no Colégio Santana, no centro da capital Gaúcha uma referência em ensino para jovens, adultos e adolescentes. Cursava o ginásio pelo sistema de artigo 99, cinco anos em dois. Essa forma de ensino não existe mais.
Num final de sexta-feira, ao cruzar diante do Palácio Piratini, sede do governo, lembrei que o governador havia visitado e conseguido alguns votos lá no sitio de meus pais. Incontinente, me dirigi ao guarda de plantão anunciando que precisava falar com o governador...! Ele educadamente respondeu: na segunda às sete horas o governador, vai lhe receber, suba pelas escadas a direita e serás atendido.
Dito e feito, no dia e hora estabelecido, em um salão amplo lá estavam umas 7, no máxima 9 pessoas sendo atendidas em fila indiana pelo governador e um grupo de assessores que anotavam e tomavam as providências imediatas para cada caso. Trajando calça azul marinho, paletó branco e o inseparável lenço colorado no pescoço, Brizola despachava com rapidez e a fila andava. Quando chegou a minha vez, ele colocou a mão esquerda no meu ombro depois de cumprimentá-lo e lascou o que mandas meu jovem? Identifiquei-me lembrando da vista dele aos meus pais e amigos e do churrasco pedi uma bolsa de estudos. Antes de chamar um assessor para me atender, ele acrescentou, “digas para aquele índio velho que qualquer dia vou passar por lá para prosear, tomar um chimarrão e comer outro carneiro assado”.
Sem retirar a mão do meu ombro dirigiu-se a um gaúcho ao lado tipicamente pilchado que pediu para ter uma conversa em particular com o governador. Brizola, respondeu: “aqui não tem segredo, podes falar”. Meio desajeitado o gaúcho relatou que estava com um problema junto ao Banco do Rio Grande, pois a safra de arroz havia fracassado e ele precisava renegociar a divida. Por determinação do governador um assessor tratou a resolveu a questão do produtor de arroz. Tudo muito rápido. Quanto a mim, ele acenou para uma assessora loira bonita que nem laranja de amostra e determinou que fosse liberada uma bolsa de estudos. Fora assim, o meu começo...!
Anos depois já exercendo o jornalismo, realizei algumas entrevistas com Leonel Brizola, quando lembrei o episodio do churrasco de carneiro e da bolsa de estudos.
Raciocínio rápido e preciso
Das centenas de frases de efeitos de Brizola, selecionei, algumas: “esses pastores querem estação de rádio para obter dinheiro. São adoradores de bezerro de ouro”. Outra dele: “Nós queremos um regime que não seja apenas das raposas, queremos um regime que seja das raposas e das galinhas onde exista espaços para os dois”.
“A educação é o único caminho para emancipar o homem. Desenvolvimento sem educação é criação de desigualdades e de riquezas para uns privilegiados”. “Devemos investir nas crianças, para que as novas gerações, tenham sobretudo, a coragem para fazer aquilo que não fizemos”.
“Quando eu fui candidato a vice do Lula, ele bebia muito, eu alertei de que bebida destilada é perigosa. Ele não me ouviu, e, segundo dizem contínua bebendo. A bebida ataca os neurônios e talvez sejam esses os motivos que o tem levado a perder a capacidade de percepção das coisas”.
Num país de povo desmemoriado, de vez quando é bom lembrar de figuras, como Leonel Brizola no Sul e Jorge Teixeira no Norte, cada um a seu tempo e seu estilo, fizeram acontecer.