Publicada em 19/01/2022 às 15h18
Há cerca de seis semanas, Angela Merkel encerrava seu quarto mandato na chefia do governo da Alemanha. Desde então, ela se manteve bastante discreta, com raras aparições ou manifestações públicas. Muito tem sido especulado sobre quais seriam os próximos projetos da ex-chanceler federal alemã. Agora, ao menos está claro o que ela não pretende fazer.
Merkel rejeitou nesta quinta-feira (19/01) uma oferta de emprego oferecida pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. A ex-chanceler federal alemã "telefonou para o secretário-geral da ONU na semana passada, agradeceu e informou que não aceitaria a oferta", divulgou a assessoria de Merkel, após pedido da agência alemã de notícias DPA.
Guterres havia oferecido a Merkel a presidência de um órgão consultivo de alto gabarito – a função deste órgão é avaliar e debater sobre bens públicos globais que poderiam servir a toda a população mundial além das fronteiras nacionais.
Exemplos de bens públicos globais são a camada de ozônio, mas também, dependendo da definição, regulamento aplicáveis internacionalmente, como determinações de segurança de voo e comércio global.
Por parte das Nações Unidas, o telefonema entre Guterres e Merkel não foi visto como uma rejeição definitiva. Segundo informações coletadas pela DPA dos bastidores da ONU, Guterres também havia feito uma oferta a Merkel por carta. O Conselho Consultivo de Bens Públicos Globais é um dos projetos emblemáticos de Guterres em relação a uma reforma nas Nações Unidas.
Em seu relatório de 2021 sobre a transformação da ONU, Guterres escreveu: "Vou pedir a um conselho consultivo de alto nível liderado por ex-líderes para identificar bens públicos globais e outras áreas de interesse comum onde as melhorias na governança são mais urgentemente necessárias". Segundo Guterres, a pandemia do coronavírus revelou grandes lacunas na cooperação internacional.
Poucas aparições públicas
Após 16 anos no governo alemão, Merkel aposentou-se da política ativa em 8 de dezembro do ano passado, quando seu sucessor social-democrata Olaf Scholz assumiu a chancelaria federal da Alemanha. Desde então, Merkel pouco se manifestou. Ela foi vista fazendo compras numa galeria famosa em Berlim, na semana seguinte ao fim de seu mandato, além e ter ido a um concerto de Ano Novo da Filarmônica de Berlim com seu marido Joachim Sauer.
Ainda não está claro se e de que forma ela pode querer se engajar voluntariamente em projetos políticos no futuro. Pouco se sabe sobre os planos de Merkel. De acordo com Beate Baumann, que coordena o escritório da ex-chanceler federal alemã e é sua confidente há muitos anos, Merkel está planejado uma autobiografia.
"A chanceler federal alemã não quer recontar toda a sua vida. Ela quer explicar suas principais decisões políticas com suas próprias palavras, e com um olhar em sua trajetória de vida", disse Baumann em entrevista à revista alemã Der Spiegel, em dezembro.
A revista publicou que o livro será um projeto conjunto de Merkel e Baumann – as duas trabalham juntas há quase 30 anos. Segundo Baumann, o livro está previsto para ser lançado em dois a três anos – ainda não há editora envolvida.
Antes do final de seu quarto e último mandato, a própria Merkel expressou reservas sobre seus planos futuros. Em setembro, nas comemorações do 750º aniversário de sua cidade natal Templin, quando perguntada se viria mais vezes no futuro, ela respondeu sucintamente: "Definitivamente".
Merkel possui uma casa de veraneio na região de Uckermark, onde fica a cidade de Templin. É de conhecimento público que ela gosta de passar dias naquela residência e cuidar do jardim.
"Talvez eu tente ler alguma coisa"
Durante sua visita de despedida aos EUA em julho, Merkel disse que queria fazer uma pausa de reflexão após seu mandato e pensar "no que realmente me interessa". Nos últimos 16 anos, ela teve pouco tempos para isso. "E talvez eu tente ler alguma coisa, então meus olhos vão fechar porque estou cansado, depois vou dormir um pouco e então veremos", disse.
Em entrevista ao diário alemão Frankfurter Allgemeine, em outubro, Merkel enfatizou o seu desejo por desfrutar do tempo livre sem preocupações. "Agora estou me certificando que farei algumas coisas das quais estive privada enquanto chanceler, talvez viajar ou ler um pouco ou apenas ter algum lazer com a certeza de que nos próximos 20 minutos não acontecerá nada revolucionário. Estou animada para esta fase", disse.
Desde que deixou a chancelaria federal alemã, Merkel trabalha num escritório em um prédio do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão). Quando ela se despediu da facção conservadora em dezembro, ela comunicou que estava se mudando para onde também ficava o escritório de Helmut Kohl, também ex-chanceler federal e considerado o mentor político de Merkel.
Merkel fará provavelmente sua primeira aparição política pública em 13 de fevereiro. O grupo parlamentar da União Democrata Cristã (CDU) do estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental – o distrito eleitoral de Merkel – nomeou a ex-chanceler federal alemã para a assembleia geral que elegerá o próximo presidente da Alemanha.
No entanto, com toda a probabilidade, o atual presidente alemão, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier, deverá ser confirmado para um segundo mandato.