Publicada em 25/01/2022 às 10h26
A alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu hoje (25) a "libertação imediata" do presidente do Burkina Faso, Roch Marc Christian Kaboré, deposto por golpe militar no fim de semana.
"Pedimos aos militares que libertem imediatamente o presidente e outros funcionários que tenham sido detidos", disse Ravina Shamdasani, porta-voz do gabinete de Bachelet, em entrevista em Genebra.
Michelle Bachelet lamenta a tomada do poder pelos militares e "apela ao rápido regresso à ordem constitucional".
A alta-comissária visitou Burkina Faso em novembro de 2021, quando saudou a realização pacífica de eleições legislativas e presidenciais no ano anterior.
"Tendo em conta imensas ameaças à segurança e os desafios humanitários que o país enfrenta, é mais importante que nunca assegurar que a lei, a ordem constitucional e as obrigações do país, ao abrigo do direito humanitário, sejam plenamente respeitadas", destacou Shamdasani, acrescentando que o Alto-Comissariado continuará a acompanhar a situação no país.
O presidente francês, Emmanuel Macron, condenou o golpe em Burkina Faso, informando ter estado em contato com "líderes da região" sobre a tomada do poder pelos militares.
"Tive as primeiras discussões com líderes da região, e terei mais nos próximos dias", disse Macron durante viagem à região do Limousin.
"Muito claramente, como sempre, estamos ao lado da organização regional Cedeao [Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental] na condenação deste golpe militar", afirmou o chefe de Estado francês.
Em entrevista na pequena cidade de Saint-Léonard-de-Noblat (Haute-Vienne), Macron lembrou que Kaboré foi eleito democraticamente pelo povo em duas ocasiões. "Foi-me dito que sua integridade física não está ameaçada", disse.
Segundo o presidente francês, o golpe de Estado "faz parte de uma sucessão de golpes militares extremamente preocupantes, no momento em que a região [do Sahel] deve ter como prioridade a luta contra o terrorismo islâmico".
Organizações internacionais, especialmente a União Europeia, União Africana e Cedeao, bem como os Estados Unidos (EUA) já manifestaram preocupação com os acontecimentos em Burkina Faso e responsabilizaram as Forças Armadas pela integridade física do presidente Kaboré.
Hoje, cerca de 18 militares anunciaram, na televisão nacional, que chegou "ao fim o poder" de Kaboré, presidente desde 2015 e reeleito para segundo mandato de cinco anos em 2020.
A TV estatal publicou carta manuscrita, assinada por ele, na qual o chefe de Estado disse "apresentar sua demissão", "no melhor interesse da nação, na sequência dos acontecimentos que aí tiveram lugar" desde domingo.
O golpe de Estado culminou com três dias de manifestações e de motins contra Kaboré em vários quartéis do país.
O poder está agora nas mãos do Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (MPSR) e de seu homem forte, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, comandante da 3.ª Região Militar, que cobre a área oriental, uma das mais afetadas pelos ataques terroristas.
O presidente Kaboré, reeleito em 2020 com promessa de lutar contra terroristas, é cada vez mais contestado pela população, que sofre violência de vários grupos extremistas islâmicos, e pela incapacidade das Forças Armadas de responder ao problema de insegurança.
Os ataques ligados à Al-Qaeda e ao grupo extremista Estado Islâmico têm aumentado sucessivamente desde a chegada ao poder de Kaboré , tirando milhares de vidas e forçando o deslocamento de um número estimado pelas Nações Unidas em 1,5 milhão de pessoas.
Os militares também sofrem baixas desde que a violência extremista começou em 2016. Em dezembro último, mais de 50 integrantes das forças de segurança foram mortos na região do Sahel e nove soldados na região centro-norte, em novembro.