Publicada em 20/01/2022 às 14h25
O papa emérito Bento XVI teria acobertado casos de pedofilia na Alemanha, segundo um relatório independente publicado nesta quinta-feira (20).
"Ele havia sido informado sobre o que aconteceu", disse o advogado Martin Pusch, um dos responsáveis pela investigação, em entrevista coletiva em Munique.
As acusações contra Bento XVI são de que ele não teria agido para impedir que um padre abusasse de quatro meninos na época em que foi arcebispo de Munique e Freising, entre 1977 e 1982.
"Acreditamos que ele pode ser acusado por má-conduta desses quatro casos", disse Pusch. "Os abusadores continuaram com suas atividades pastorais."
O papa emérito, de 94 anos, que abandonou o cargo em 2013, nega qualquer alegação de que tivesse conhecimento sobre os abusos.
"Ele [Bento] alega que não tinha conhecimento dos fatos, mas nós acreditamos que não é bem assim, de acordo com o que descobrimos", afirmou o advogado.
Os casos de abuso
Segundo o relatório, o então cardeal Joseph Ratzinger, antes de se tornar papa, não fez nada para afastar quatro clérigos suspeitos de abusos sexuais contra menores.
Em dois casos, os envolvidos eram membros do clero que cometeram várias agressões comprovadas, inclusive por tribunais. Os dois padres permaneceram dentro da Igreja e nada foi feito, diz a acusação.
Os investigadores disseram estar convencidos de que Ratzinger estava ciente do passado pedófilo do padre Peter Hullermann, que chegou em 1980 da Renânia do Norte-Vestfália, na Baviera, onde continuou a praticar abusos por décadas sem ser incomodado.
Em 1986, um tribunal o condenou à prisão, mas ele foi então transferido para outra cidade da Baviera, onde teria reincidido. Foi apenas em 2010 que este padre foi forçado a se aposentar.
Joseph Ratzinger negou conhecer o passado do padre, cujo caso ganhou as manchetes dos jornais em 2010, na época do pontificado de Bento XVI.
Os autores do relatório também apontam para o cardeal Reinhard Marx, atual arcebispo de Munique e Freising, por ser negligente em dois casos de padres suspeitos de abusos sexuais contra crianças.
No geral, o relatório denuncia o acobertamento sistemático de casos de violência contra menores entre 1945 e 2019 com o objetivo, segundo eles, de "proteger a instituição da Igreja".