Publicada em 14/01/2022 às 11h25
Porto Velho, RO – Houve uma época em que Ivo Cassol, quando senador, vivia aparecendo junto com o então deputado federal Jair Bolsonaro nos noticiários nacionais.
Isto porque ambos defendiam veementemente a utilização da ineficaz Fosfoetanolamina, apelidada em tons miraculosos como Pílula do Câncer, a pacientes portadores da doença.
A fórmula do professor da Universidade Federal de São Paulo (USP) Gilberto Chierice é comprovadamente nula como remédio contra a complexa patologia, e hoje é vendida como suplemento alimentar.
Depois, apesar de se gostarem, Bolsonaro e Cassol seguiram caminhos distintos: o primeiro tornou-se presidente da República em 2018, com aval maciço dos rondonienses, e isto enquanto o outro decaia juridicamente.
Ivo Narciso, sentenciado pelo Supremo (STF) criminalmente por fraude em licitação, ainda está com os direitos políticos cassados, mas garante a quem quiser ouvir que, sim, será postulante ao lugar de Marcos Rocha nas eleições de 2022 rumo ao Palácio Rio Madeira.
Tudo depende do mesmo STF que o engessou. Seu otimismo, como se vê, é de dar inveja.
Mas a autoimagem que Narciso construiu de si vai além: numa entrevista exclusiva concedida ao site Painel Político, Cassol mexeu num verdadeiro vespeiro ao defender suas credenciais como homem público rondoniense.
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Ivo Cassol: “É o Bolsonaro que precisa de mim, eu não preciso de carona”
“Eu sou Bolsonaro. Eu não sei como ele vai conduzir Rondônia. Tem muita gente que precisa do Bolsonaro para se eleger. Não é meu caso. Ivo Cassol tem nome próprio, identidade própria. Então, na verdade é inverso: seria o Bolsonaro que precisa de mim, não eu que precisava dele nestas eleições”, declarou.
Em seguida, sacramentou:
“Eu não preciso justificar nada, já outros precisam de carona. Nessa eleição agora é o seguinte: é cada um por si e ‘Deus’ por todos. Bolsonaro não é nenhuma ‘Brastemp’ mas é a opção que a gente tem”, concluiu.
Não ser uma Brastemp, no caso, é uma expressão relacionada às célebres propagandas da marca de eletrodomésticos nos anos 90 e início dos anos 2000. Ela significa basicamente que algo que não seja uma Brastemp não é tão bom, não vale tanto a pena, não tem tanta qualidade, etc.
Em suma, sobre não ser muito bom Cassol até tem razão sobre Bolsonaro, porém no quesito sobre o morador do Alvorada precisar dele para se reeleger, bem, não é bem assim que as coisas são, e Ivo sabe...
Apesar de Ivo Cassol ser um político popular no estado, inegavelmente, Bolsonaro foi eleito em 2018 com 538.311 votos no primeiro turno, quando avançou para a segunda etapa do pleito contra Fernando Haddad, do PT. O petista, no entanto, largou com 176.107 votos.
No segundo turno, a votação de Messias subiu para 594.968 votos; enquanto Haddad obteve 229.343 votos.
Rondônia foi o teceiro estado brasileiro que mais votou em Bolsonaro em 2018 / Reprodução Gráfico G1
Rondônia foi o terceiro estado de todo o solo brasileiro que mais depositou confiança em Bolsonaro (fez 72,2% dos votos no segundo turno), atrás apenas de Santa Catarina e do Acre.
Mesmo que exista alguma desidratação por conta da exposição no cargo em quatro anos como administrador do Brasil, chega a ser um exagero patológico dizer que o mandatário do Planalto precisa de um senador com os direitos políticos cassados para se manter no cargo.
Cassol virou chacota nacional ao sugerir faísca de solda contra o Coronavírus / Reprodução-Capa UOL
Até a margem retórica que se concebe por algo parecido como licença poética a políticos muito egocêntricos foi extrapolada – e muito.
Se o ex-congressista quiser mesmo ser eleito de novo governador então terá de, em primeiro lugar, brigar para obter o aval judicial para tanto; e, em segundo, colocar a cabeça no prumo.
Seus devaneios de grandeza, como quando se tornou chacota nacional ao sugerir faísca de solda para curar o Coronavírus (COVID-19/SARS-CoV-2), enfim, não combinam mais com as exigências do povo.