Publicada em 22/01/2022 às 09h19
A situação caótica do setor do ensino da Guiné-Bissau é reconhecida por quase todos os intervenientes na área. O funcionamento regular das aulas nas escolas públicas tem sido um problema, principalmente na capital do país.
Sabino Victor Lotche, pai e encarregado de educação, não tem dúvidas: "É necessário que haja a intervenção do próprio Governo para fazer face aos problemas candentes que continuam a persistir no nosso ensino".
Embora os sindicatos tenham dado uma trégua ao Governo neste mês de janeiro, suspendendo a greve geral que decorreu durante todo o ano passado, as aulas continuam a meio gás, três meses depois do início do ano letivo 2021/2022.
O professor Djibril Cassamá aponta uma das razões dessa "greve silenciosa": "Tem a ver com a própria forma que o Governo adotou para resolver o problema da educação, o desconto [dos salários], a intimidação à classe dos professores moveram os professores a fingirem dar aulas, em vez de trabalhar como deve ser".
A DW África tentou, mas não conseguiu ouvir o Ministério da Educação sobre a situação do ensino público. Este ano, devido às constantes instabilidades no setor, as escolas públicas foram abandonadas por milhares de alunos, que se matricularam nas escolas privadas.
"O nosso sistema do ensino desmembrou-se totalmente e o Ministério da Educação está a mostrar uma grande incapacidade de controlar e de poder fazer a escola [pública] acontecer", afirma a escritora guineense e ex-ministra da Educação Odete Semedo.
"A escola não está a acontecer na Guiné-Bissau. Está a acontecer, sim, nas escolas privadas, e nós estamos a levar o país ao descalabro", lamenta.
Em 2014, o Ministério da Educação realizou um estudo-diagnóstico sobre o progresso do setor e revelou que o nível dos alunos do ensino básico é fraco. Segundo o estudo, em termos de desempenho dos alunos desse nível, a Guiné-Bissau figura nos últimos lugares, em comparação com os países da sub-região.
A Confederação das Associações dos Alunos das Escolas Públicas e Privadas da Guiné-Bissau (CAAEPP) diz-se preocupada. O presidente da organização, Alfa Umaro Só, anuncia a realização, em maio próximo, da Conferência Nacional para a Salvação do Sistema do Ensino Guineense: "Através desta conferência, vamos poder ter uma agenda comum para o desenvolvimento do sistema educativo", garante.
"Vamos propor novas políticas para o sistema educativo e propor ao Governo e a todos os órgãos de soberania para a sua validação e aplicabilidade, porque a educação é de toda a sociedade", afirma.