Publicada em 28/01/2022 às 15h24
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu nesta sexta-feira (28) aos países ocidentais que evitem fomentar o "pânico" sobre as tensões com a Rússia, acusada de preparar uma invasão à Ucrânia, e minimizou os riscos de ataque.
A declaração veio logo após o presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo francês, Emmanuel Macron, concordarem, durante uma conversa telefônica, sobre "a necessidade de uma desescalada", segundo a Presidência francesa.
Mais de 100.000 soldados russos estão concentrados na fronteira com a Ucrânia e os Estados Unidos veem nesta presença um indício de que a invasão da ex-república soviética poderia ser iminente.
"A probabilidade de ataque existe, não desapareceu e não foi menos grave em 2021", mas "não vemos nenhuma escalada maior do que já existia" no ano passado, enfatizou Zelensky durante uma coletiva com a imprensa estrangeira em Kiev.
"Não precisamos desse pânico", reforçou, pedindo ainda à Rússia que faça um gesto por uma "desescalada".
"O maior risco para a Ucrânia" é "a desestabilização da situação interna", e não a ameaça de uma invasão russa, insistiu Zelensky.
A Rússia sempre negou ter planos de invasão, mas se considera ameaçada pela expansão da Otan para o leste nos últimos vinte anos e pelo apoio ocidental à Ucrânia.
Por esse motivo, Moscou condicionou a desescalada à interrupção da política expansionista da Aliança e o retorno às posições de 1997.
Os Estados Unidos e a Otan rejeitaram as principais demandas russas na quarta-feira.
"As respostas dos Estados Unidos e da Otan não levaram em conta as preocupações fundamentais da Rússia", disse o Kremlin em comunicado, no qual mencionou parte da conversa entre Putin e Macron.
"A questão-chave foi ignorada, ou seja, como os Estados Unidos e seus aliados planejam [...] implementar o princípio de que ninguém deve fortalecer sua segurança em detrimento de outros países", acrescentou a Presidência russa.
- "Necessidade de desescalada" -
Os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Rússia, Vladimir Putin, concordaram nesta sexta-feira sobre a "necessidade de desescalada" e a continuidade do "diálogo" para resolver a crise relacionada à Ucrânia, informou o Palácio do Eliseu.
"O presidente Putin não expressou nenhuma intenção ofensiva", destacou a Presidência francesa.
Tanto a Europa quanto os Estados Unidos ameaçaram aplicar duras sanções contra a Rússia se ela decidir invadir a Ucrânia.
Sobre a mesa estariam o estratégico gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha, e o bloqueio do acesso russo às transações em dólar.
Nesta sexta-feira, Washington e a União Europeia disseram em comunicado conjunto que estão trabalhando no fornecimento de "volumes adicionais de gás natural" à Europa para eventuais consequências de uma "nova invasão russa da Ucrânia".
Além disso, os Estados Unidos exigiram que o Conselho de Segurança da ONU realize uma reunião na segunda-feira devido à "clara ameaça" que, segundo Washington, Moscou representa à "paz e segurança internacionais".
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, destacou pela manhã: "Se depender da Rússia, não haverá guerra. Não queremos guerras. Mas não vamos permitir que nossos interesses sejam ultrajados e ignorados".
Moscou havia alertado que, se seus pedidos não fossem atendidos, responderia com força, mas não especificou como.
À noite, a diplomacia russa anunciou que estava proibindo a entrada no país de funcionários das forças de segurança e órgãos legislativos e executivos de alguns países da União Europeia que são "pessoalmente responsáveis pela propagação da política antirrussa".
Alguns deputados russos propuseram que o país reconheça a independência dos territórios separatistas pró-Rússia na Ucrânia e os armem.
O Kremlin é visto como um instigador do conflito no leste da Ucrânia, desencadeado em 2014, em seguida da anexação da Crimeia pela Rússia, após uma revolução pró-ocidental em Kiev.